terça-feira, 26 de maio de 2009

3º Episódio: "O tempo que nos resta"


A cena abre com o último acontecimento do episódio anterior.


Teodoro: Me desculpe doutor, cheguei agora porque acabei perdendo a hora...

Olegário: Não se preocupe. O importante é que chegou à tempo de assistir o sepultamento.

Ana Flor vê os dois conversando e vai até lá.

Ana Flor: (para Teodoro) Você aqui? (para Olegário) Vocês se conhecem?

Um clima tenso surge no ar. Música de suspense instrumental começa. Teodoro e Olegário se olham na medida que Ana Flor deseja uma explicação. A câmera percorre o rosto dos três e congela em Teodoro. A tela escurece.

Abertura de “Barraco, Glamour e Et's”, “Pontes Indestrutíveis/ Charle Brown Jr.”:





Episódio três

O tempo que nos resta

CENA 01 – EXT/DIA – CEMITÉRIOAna Flor está séria, interrogando o pai e Teodoro.

Ana Flor: Vamos papai, me diga, vocês se conhecem?

Teodoro faz menção de querer dizer algo, mas Olegário o interrompe.

Olegário: Claro que sim minha querida. Esse rapazinho era muito amigo de sua tia Deolinda.

Ana Flor: (admirada) Era?

Teodoro: (mais admirado ainda) Era? (atrapalhado) Ah, eu era, é verdade. Inclusive era sobre ela que havia comentado com você ontem, se lembra?

Ana Flor: Nossa, quanta coincidência. E eu que achei...

Olegário: (enigmático) Não existe coincidência Ana Flor, o que existe é Deusdência. Por alguma razão em particular vocês se conheceram.

Teodoro: (não entendendo nada) É, vai ver que é isso mesmo.

Olegário: Mas me digam, agora eu quem pergunto. Vocês já se conheciam?

Teodoro novamente faz menção de falar, mas Ana Flor se antecede.

Ana Flor: Nos conhecemos ontem a tarde papai. Estava tão triste e Teodoro acabou me consolando.

Olegário: Mas que interessante. Então são amigos?

Teodoro vai falar e Ana Flor responde.

Ana Flor: Acho que sim... Somos amigos Teodoro?

Teodoro: Ah sim, somos, claro.

Olegário: Pois faço muito gosto dessa amizade.

Ana Flor: Faz?

Teodoro: Faz?

Olegário: Faço sim. Só lamento terem se conhecido numa situação um pouco delicada. Mas como ambos sofrem pela mesma pessoa, talvez possam mesmo se consolar.

Ana Flor: Então quer dizer que você conhecia minha tia Deolinda?

Teodoro olha Olegário sem saber o que dizer.

Olegário: Pelo que me parece, eram muito amigos. Deolinda me falava muito ao seu respeito.

Teodoro: (confuso) Então... Pois é... Sua tia e eu... Nós éramos muito chegados mesmo...

Ana Flor: Você pode me falar sobre ela depois?

Teodoro: (olhando Olegário, e muito confuso) Posso? Posso! Posso sim... Falo tudo o que você quiser saber...

Ana Flor: (triste) Que bom... Essa mulher foi minha maior referência de ser humano.

Olegário: Bem meninos, chegou a hora do sepultamento. Vamos filha?

Ana Flor: (chorosa) Vamos sim. (e se abraça ao pai)

Olegário e Ana Flor começam a caminhar quando o homem nota que Teodoro está parado no mesmo lugar.

Olegário: (olhando nos olhos do rapaz) E você Teodoro, não vem?

Teodoro: (desconcentrado)Vou... Vou sim... Vamos...

CENA 02 – EXT/DIA – PRODUTORABoriska está deitada e se levanta. Se espreguiça, olha tudo em volta e vê um pacote chamativo com um bilhete com seu nome. Uma luz forte e brilhante está sobre ele. Abre o embrulho e nota que é uma bíblia. Lê o cartão em voz alta.




Boriska: “Para Boriska, com carinho, Teodoro”. (ela sorri, senta-se na cama e começa a folhear o livro).


CENA 03 – EXT/DIA – CEMITÉRIO - Começa a tocar “The Journey/X-Ray Dog”. A câmera pega os rostos de todos ali presentes em vários ângulos. Ana Flor está abraçada à Olegário, que se mostra muito abatido. Lorena e Wilma estão chorando, enquanto que Anisia observa tudo através dos óculos escuros. Simultaneamente a câmera mostra eles e Teodoro observado tudo aquilo.

Teodoro: (em off) Gente mais estranha. E muito excêntrica também. O doutor ai do nada me contratou pra chorar no velório da coroa no caixão. Pobre mulher. Ter que pagar pra ter algumas lágrimas. (para Deolinda) Ae dona, desculpa por ter feito esse trampo, mas é que eu realmente tava precisando. Aquela outra ali (falando de Anisia) toda presunçosa, cheia de pose. Essas duas ae não me parecem tão malas quanto a outra (referindo-se a Lorena e Wilma). Mas quem realmente tá sofrendo por aqui é essa garota. Pobrezinha, que vontade de ir lá e abraça-la... Ela é tão linda... Que fascínio é esse que ela tá exercendo sobre mim? Ai Teodoro, pode parar... A garota não tem nada a ver com você... Nem inventa... Mas perae, quem disse que não? Ah, a vida não tem sido nada generosa comigo nos últimos tempos... Bem que um amor poderia preencher essa lacuna que tá vazia aqui dentro (e leva a mão ao coração). A música aumenta, e câmera se volta para o céu.


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CENA 04 – DIA/EXT – CEMITÉRIOOs familiares de Deolinda estão recebendo os cumprimentos dos amigos. Teodoro se aproxima para falar com Ana Flor.

Teodoro: Eu sinto muito. Meus pêsames.

Ana Flor: Obrigada.

Anisia se aproxima sendo hostil.

Anisia: E você quem é? Depois do espetáculo de ontem pensei que não fosse voltar mais.

Olegário: Deolinda, olhe os modos.

Anisia: Falei alguma besteira por acaso Olegário?

Olegário: Não é de bom tom falar dessa maneira com alguém que você nem mesmo conhece.

Anisia: Finalmente chegamos num ponto em comum. Não o conheço, exato. E você, o conhece? Sim, por que depois de todo aquele choro rô de ontem fiquei curiosa para saber de quem se tratava a pessoa que mais derrubou lágrimas entre nós.

Ana Flor: Você esteve aqui ontem?

Anisia: Ah, então o seu amiguinho não contou o show que deu ontem? Muito me admira uma amizade assim...

Teodoro: Eu não contei porque não tive oportunidade, senhora. (para Ana Flor) Realmente ontem estive aqui, lembra que te falei que havia perdido uma pessoa querida quando nos encontramos?

Ana Flor: Lembro sim. Você tem razão. ? que aconteceram tantas coisas nos últimos dois dias que estou fora de mim mesma.

Teodoro: Se você quiser, podemos nos encontrar mais tarde e tomarmos um suco, o que me diz?

Ana Flor: Realmente estou fora de mim Teodoro. Mas agradeço o convite. Não me leve a mal, é que estou muito cansada e preciso urgentemente recuperar minhas energias.

Teodoro: Não, tudo bem, eu compreendo.

Ana Flor: Mas se quiser me ligar mais tarde...

Inicia “Não vá embora/Instrumental/Marisa Monte”.

Teodoro: Se não for incomodá-la, vou adorar.

Ana Flor: De modo algum. Vai até mesmo ser bom conversar para me distrair um pouco.

Anisia simula uma tosse forçada e interrompe a conversa dos dois.

Anisia: Vamos filha. Ainda temos algumas coisas relacionadas a Deolinda que precisamos ajeitar.

Lorena: Está falando do inventário, não é?

Anisia: Fique calada sua estaferma. Vamos?

Ana Flor: Então tá, por ora muito obrigada por ser gentil comigo.

Teodoro: Eu... Eu é quem agradeço.

Ana Flor: Até mais.

Teodoro: Até.

Olegário: Entro em contato com você garoto. (sem que a família perceba, entrega um novo envelope para ele) Aqui está, muito obrigado.

Teodoro: Por nada chefia, precisando... Tamo ae. (e guarda o envelope no bolso da calça)

Eles vão embora e a música aumenta, passando a ser cantada, enquanto Teodoro observa Ana Flor, que olha para ele.


CENA 05 – EXT/TARDE – RUAGarotos andando de skate de um lado para o outro. Uma garota muito bem vestida atravessa a rua, quando um dos garotos esbarra nela.

Lisandra: Ai! (derruba algumas revistas que estava segurando) Qual é hein garoto, não olha por onde anda não?

Nino: (ajudando a garota a recolher as revistas) Me desculpe, é que eu não vi você...

Lisandra: (nervosa) Se fosse um carro tinha passado por cima.

Nino: Não... Não seria tão burro ao ponto de passar por cima de uma princesa que nem você.

Lisandra: (desconcentrada) Ora, era só o que me faltava... Além de quase me levar ao chão, agora fica me passando cantada barata. Se enxerga né garoto.

Nino: Não posso mais me enxergar... Não depois de ter colocado os olhos sobre você...

Lisandra: Ah, me polpe... (e se vira)

Nino: (gritando) Garota!

Lisandra: (pára e olha para ele) O que é?

Nino: A sua revista.

Lisandra volta até ele e pega a revista de suas mãos e a puxa. Se vira novamente e vai embora.

Nino: Não vai nem agradecer?

Lisandra nem olha para trás. Começa a tocar “Barbie Girl/Kelly Key”. A câmera volta-se para Nino. Fecha um close no rosto do garoto.

Nino: Ah, que agora eu to apaixonado!

Junior: Falando sozinho agora Nino?

Nino: (sorrindo) Não meu bom amigo... To falando com o meu amor...

Junior: Amor? Bateu a cabeça foi skatista?

Nino sorri, a música aumenta.

CENA 06 – INT/DIA – GLAMOURA câmera foca uma placa na entrada escrita “GLAMOUR”. Lisandra entra bufando.

Alexis: Bom dia pra você também mocinha? Dormiu comigo foi?

Lisandra: Desculpa Alexis. Foi mal.

Alexis: Que foi que aconteceu garota pra ficar nesse estado?

Lisandra: Um ogro que tava andando de skate ai em frente e acabou esbarrando em mim. Olha só o que ele fez, quebrou minha unha. (e mostra a mão para a mulher)

Alexis: Me deixe ver. (e pega a mão da menina para ver) É, realmente o estrago foi grande. Me diga Lisandra, é só por isso mesmo que você ficou assim toda agitada.

Lisandra pára, olha para Alexis séria.

Lisandra: Também.

Alexis: E qual é o outro motivo?

Lisandra: Dele não ter me dado bola. (e senta-se na cadeira colocando uma das mãos na testa)

Alexis: Ah, agora entendi... (olha pela janela e observa Nino e os garotos andando de skate) Ele não te deu bola não foi? Esquenta não Lisandra, quem sabe numa outra oportunidade vocês não se esbarram de frente e você agarra ele de vez...

Lisandra: Alexis?!

Alexis: Que foi? Por acaso falei alguma besteira?

Lisandra: (revirando os olhos) Dizer não disse... Mesmo porque é tudo o que quero. (e vai até a janela) Agarrar essa gracinha e enche-lo de beijinhos.

Ambas sorriem. Alexis senta-se frente a sua mesa.

Alexis: Pois é Lisandra. Nos próximos dias a “Glamour” vai bombar.

Lisandra: Já escolheu as garotas que vão participar da próxima campanha da agência?

Alexis: Já sim. Aqui estão as fotos.

Lisandra as pega nas mãos e passa uma a uma. Ela termina na de Julieta. A câmera dá um close na foto.

Lisandra: Você tem bom gosto. As garotas são realmente muito lindas.


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CENA 07 – INT/DIA – CASA DE JULIETAJulieta está em seu quarto arrumando suas malas. Está triste. Começa a tocar “The Journey/X-Ray Dog”. Sua mãe entra e a abraça. A música abaixa.

Aurora: Por que essa carinha triste meu bem?

Julieta: Não sei se devo mesmo fazer isso...

Aurora: Não só deve como vai fazer meu bem. Essa é uma oportunidade que não deve deixar passar. Pare de pensar naquele garoto. Ele não era mesmo para você.

Julieta: Tá difícil aceitar isso mãe. Eu acreditei ser amada por ele.

Aurora: Eu sei meu bem, mas saiba que isso não é o fim. Olhe, agora pode parecer impossível e até mesmo dolorido. Mas com o tempo você vai perceber que foi o melhor que podia ter lhe acontecido. Aquele Jhuan não te merecia, filha.

Julieta: Eu quero acreditar nisso mãe. Mas meu coração diz exatamente o contrário.

Aurora: Ele só está confuso minha linda, é normal que se sinta assim. Deixe-o se aquietar primeiro. Essa proposta de trabalho não podia lhe ter vindo em hora melhor. Vá tranquila, conheça gente nova, aproveita as oportunidades que a vida está lhe dando e procure ser feliz Julieta.

Julieta: A senhora tem mesmo razão. (enxuga as lágrimas) Eu vou dar a volta por cima.

Aurora: Isso mesmo minha filha, assim que se fala. O tempo vai se encarregar e cicatrizar todas as feridas. (se abraçam. Música instrumental aumenta)


CENA 08 – INT/DIA – CASA DE SEU MOISÉSA cena abre com seu Moisés colocando as coisas de Teodoro na rua.

Teodoro: Mas como assim seu Moisés? O senhor me garantiu que eu pagando o que devia tava tudo certo.

Seu Moisés: Pois é, eu garanti. Mas você sabe como são as coisas não é garoto? Digamos que cheguei no limite. Vai até ser melhor para você mesmo.

Teodoro: O senhor não pode fazer isso comigo logo agora seu Moisés. Onde é que eu vou colocar as minhas coisas?

Seu Moisés: Isso já é problema seu garoto. Tivesse pensado antes. Você me deu muita dor de cabeça. Me enrolou demais para pagar o aluguel. Cansei, não quero mais você como inquilino.

Teodoro: Justo agora que eu consegui quitar toda a minha divida com o senhor?

Seu Moisés: Graças à Deus que conseguiu. Mas mesmo que não tivesse me pagado, já estava decidido. Não o quero mais como inquilino.

Teodoro: Poxa seu Moisés, faz isso comigo não, por favor?

Seu Moisés: Vá rezar na igreja mocinho. Talvez algum santo escute suas lamentações porque eu já me cansei de ouvi-las. Agora passar bem. (e bate a porta na cara de Teodoro)


CENA 09 – EXT/DIA – CASA DE TEODOROTeodoro entra em casa e sua mãe está sentada no sofá.

Eloísa: Pensei que não fosse mais aparecer.

Teodoro: Mãe, tô precisando falar com a senhora.

Eloísa: Então diga logo que já vai começar o programa do pastor. Se for pra pedir dinheiro emprestado, vou logo avisando que to mais dura que... Bom, deixa isso pra lá...

Teodoro: Não mãe, quero pedir dinheiro não. ? sobre outra coisa que quero falar.

Eloísa: Então desembucha de uma vez.

Teodoro: O seu Moisés pediu o quarto onde funcionava o “Barraco”.

Eloísa: Até que enfim ele tomou uma atitude hein?

Teodoro: (humilhado) Eu sei. (os olhos ficam marejados) Mãe, será que eu posso deixar as coisas da produtora aqui por alguns dias? Vai ser coisa rápida, eu prometo. Só o tempo pra eu arrumar outro lugar e...

Eloísa: (interrompendo) Nem continue. Já sei onde isso vai dar. Escuta aqui Teodoro, vou ser direta com você. Minha resposta é não.

Teodoro: Mas mãe...

Eloísa: Xiii, ainda não terminei. Eu não vou deixar você trazer as coisas pra cá por um único motivo. A partir do momento que você trouxer as coisas para cá nunca mais você irá tira-las daqui.

Teodoro: Não mãe, eu prometo. Vai ser só por um tempo mesmo.

Eloísa: Tempo? Quanto tempo? Vinte anos? Não Teodoro, não se engane. Seu problema é esse, querer viver nesse mundo de ilusão. Esse mundo não é pra você menino, será que ainda não percebeu isso? Vai precisar acontecer mais o que pra se dar conta que isso não é pra você?

Teodoro: Eu só tô te pedindo uma ajuda mãe, e por pouco tempo. Que custa fazer isso por mim?

Eloísa: Custa muito. Era só isso que tinha pra me dizer? Se já disse, agora me deixe em paz. Enquanto viver nessa vidinha de vagabundo, não conte comigo.

Teodoro: (revoltado) Eu não sou vagabundo. Sou um artista.

Eloísa: Grande artista! (gargalha) Já tá na televisão? Não né... Então não me amole!

Teodoro faz menção de dizer algo, mas desiste. Sai da casa.


CENA 10 – EXT/TARDE – RUAComeça a tocar “The Journey/X-Ray Dog”. A câmera vai pegando Teodoro em vários ângulos. Sobe, desce e gira em torno dele. Ele vai caminhando pela rua e as lágrimas começam a cair pelo rosto. Chega a uma praça onde senta no banco e deita sua cabeça. Boriska se aproxima. Começa a tocar “From the Heart/X-Ray Dog

Boriska: Por que Teodoro chorar dessa maneira?

Teodoro: Eu perdi Boriska... Eu perdi... (chorando) Nada que eu faça, dá certo... Não sou nada, não tenho nada... Nunca vou chegar a ser nada...

Boriska: (tocada por vê-la daquele jeito) Teodoro não deve falar dessa maneira. Teodoro ter um coração tão bonito, alegre, com energia positiva...

Teodoro: (soluçando) Sim, tenho... Mas e daí, do que adianta ser bom? Tô me sentindo um lixo Boriska, tô me sentindo a pior pessoa do mundo... Não foi isso que eu imaginei pra minha vida, não foi nada disso... Vejo todos os meus sonhos se esvaindo pelas minhas mãos e não consigo controlar. Sou um perdedor Boriska. Um perdedor.

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CENA 11 – EXT/TARDE – PRAÇAA cena abre com Boriska sentada ao lado de Teodoro no banco da praça.

Boriska: Você não deve dizer essas coisas. (pára por um instante) Teodoro, responde pra Boriska com sinceridade. O que você faria se te restasse pouco tempo de vida?

Teodoro levanta a cabeça e a encara.

Teodoro: Por acaso eu tenho pouco tempo de vida?

Boriska: Não, só gostaria de saber mesmo.

Teodoro: Ah, agora eu já entendi. Você ter surgido assim do nada na minha vida tinha que ter uma razão não é? Você veio pra me dizer que tenho pouco tempo de vida não é mesmo? Pode dizer, depois dos últimos acontecimentos nada mais me surpreende. Quanto tempo ainda me resta?

Boriska: Quanto tempo eu não sei Teodoro. Mas que você precisa vivê-la melhor, ah isso precisa mesmo.

Teodoro: (concluindo num tom de lamentação) Tá vendo só, você surgiu porque vou morrer mesmo.

Boriska: Claro que você vai morrer. Quer dizer, ir para uma outra dimensão. Mas quando digo que deve aproveitar é porque te vejo preocupado com coisas que nem aconteceram ainda. E não é algo que só você faça. Vejo muitos humanos preocupados com o que ainda nem aconteceu ao invés de aproveitarem o que já possuem... De aproveitarem o momento. O tempo por aqui é escasso e ao invés de apreciarem tudo que lhes são permitido, se preocupam em demasia com o que pode nem vir acontecer. Veja você por exemplo, quer a todo custo ser um ator reconhecido. No entanto nem você mesmo se reconhece. Sucesso é quando você faz algo que te dê prazer e você mesmo nota isso. E olhe que isso não depende de ninguém, senão de você mesmo. Ninguém sabe a hora que irá partir. E é por razão que não se deve perder tempo com lamentações.

A medida que Boriska fala, Teodoro vai mudando sua feição.

Boriska: Você quer fazer algo grande, algo especial... Mas fica só no querendo... Sua mãe, seus vizinhos... Seus problemas, a vida que leva... Aonde ela chegou... Encare tudo isso por um outro prisma. Acostume-se à olhar tudo com os olhos do bem. Esse é um dos grandes segredos da vida.

A câmera faz um close no rosto de Teodoro, e simultaneamente mostra a boca de Boriska.

Boriska: Quer mudança? Seja a mudança. Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo. E isso começa por um pequeno gesto que vai sempre partir de você, de mais ninguém.

A música aumenta e Teodoro está de cabeça baixa. Manu chega afobado e sem camisa.

Manu: (para Teodoro) Poxa mano, acabei de saber o que aconteceu. Logo agora que você tinha acertado o que devia. Vem Teodoro, levanta. Você vem comigo. Você vai morar lá em casa.

Teodoro levanta a cabeça surpreso. Boriska que até então estava olhando para ele se vira para levantar e dá de cara com o peito desnudo de Manu. Fica de boca aberta olhando por alguns instantes o peitoral do mecânico.

Boriska: (desconsertada) Ai... Ui... Que calor me deu de repente...

Manu: (preocupado com ela) Tá tudo bem com você garota?

Boriska bota os olhos sobre o rosto do rapaz. Começa a tocar “Busca Vida/Paralamas do Sucesso”. Ela sente sua cabeça rodar como se estivesse penetrando uma nova galáxia.

Manu: (novamente) Tá tudo bem com você?

A música abaixa e fica instrumental. Teodoro é quem responde, enquanto Boriska está paralisada, admirada com o rapaz.

Teodoro: Essa é a Boriska, Manu. Uma amiga minha. Boriska, esse é o Manu, meu grande irmão.

Manu: (estendendo a mão) Prazer linda.

Boriska: (estende a mão também, mas apenas balbucia alguma coisa que não se compreende)

Teodoro: Que história é essa de ir pra sua casa Manu?

Manu: Ah mano, eu to ligado que sua mãe não vai deixar você colocar as coisas lá na sua casa. Então já me adiantei. Bora lá pra casa, tu fica o tempo que precisar e pára de esquentar a mufa com esses baratos de aluguel. Daí tu vai poder se dedicar aos teus estudos.

Teodoro: (tocado) Poxa Manu, agradeço, mas isso não vou poder aceitar. Já é demais.

Manu: Deixa disso mano. Já tá resolvido. Bora lá pra casa. Eu não to fazendo favor nenhum, só to apostando no teu talento.

Música instrumental aumenta.

Teodoro: É que agora eu não to sozinho... Ela tá comigo...

Manu: Vocês tão...

Teodoro: Não, não... A Boriska é uma... Bem, é uma amiga que veio para me ajudar.

Manu: Bom, nesse caso... A casa não é lá muito grande, mas se você quiser, (para Boriska) pode vir morar com a gente também.

Boriska: (de imediato, e com sorriso no rosto) Eu vou. Claro que vou. Vai ser ótimo.

Manu: Então simbora galera. Bora que deixei um rango preparado lá em casa.

Teodoro: (segura o amigo) Muito obrigado pelo que tá fazendo por mim Manu. Mais uma vez me ajudando no momento em que eu mais preciso.

Manu: Nada moleque. Relaxa. Eu sei que tu ainda vai chegar longe. Vamos?

Boriska balança a cabeça positivamente e feliz.

Teodoro: Vambora.

A música aumenta e a câmera pega os três por trás indo embora.


CENA 12 – INT/NOITE – MANSÃO DE DEOLINDAAnisia está na sala tomando uma taça de champanhe ao lado de Lorena e Wilma. Olegário entra e a fica olhando.

Anisia: Venha querido, celebre conosco esse momento.

Olegário: Não estamos em momento de celebração Anisia. Acabamos de enterrar sua irmã.

Anisia: Não seja tão ultrapassado meu amor. Estou bebendo também por Deolinda. Ela sempre gostou de muita alegria. Não iria querer nos ver jogados aos cantos se lamentando.

Olegário: Você não toma jeito.

Anisia: E de mais a mais estou apenas me preparando para assumir os negócios da família. Agora que Deolinda partiu, que Deus a tenha, sou eu a herdeira principal de toda sua fortuna. É tradição em nossa família quando morre o mais velho e que não deixou nenhum herdeiro de sangue como filhos ou netos, que o parente mais próximo e mais velho assuma todo o controle sobre os bens deixados por quem partiu.

Olegário: Deixe se ser gananciosa Anisia. Deolinda deixou um testamento. Se fosse você não cantaria vitória antes do tempo. Você pode ter uma grande surpresa.

Anisia: (desconfiada) Está sabendo de alguma coisa que não me foi passada Olegário?

Olegário: (com sorriso no olhar) Só acho que muita água ainda vai rolar por debaixo dessa ponte, “meu bem”. Portanto não se anime muito. (e sai)

Anisia: Olegário, volte aqui, Olegário não me deixe falando assim. Olegário!

Olha para suas irmãs que permanecem caladas.

Anisia: (levantando uma das sobrancelhas) O que será que Olegário quis dizer com tudo isso? O que ele sabe que eu ainda não sei? Seja lá o que for, eu irei descobrir. E posso garantir uma coisa a vocês, nada nem ninguém vai me impedir de estar a frente dos negócios de Deolinda. (e entorna a taça de champanhe)

A câmera foca o rosto de Deolinda e das irmãs e fecha no da mulher. A tela escurece.

Voz narrada: O Barraco está armado. O que Olegário sabe e está escondendo da família? E o que se passa com Boriska? A extra terrestre ficou diferente depois de conhecer Manu... Será que vai pintar um romance entre esses dois? E Teodoro, vai sair dessa maré baixa e conseguir alavancar um sucesso? Você não pode perder e já está convidado para ler o próximo episódio de “Barraco, Glamour e Et's”... CREIA... ACREDITE... MUDE!!!

E acompanhe as novidades dessa super história em nossa comunidade... Acesse: "Barraco, Glamour e Et's"

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=85968885

E fique por dentro de tudo que vai rolar!!!

sábado, 23 de maio de 2009

2º Episódio: "Ajuda-te que o céu te ajuda"


A cena abre com o último acontecimento do episódio anterior.

Começa a tocar “Busca vida/Paralamas do Sucesso”. Boriska acena para o pai e a irmã. Uma luz toma conta dela e atravessa todos os planetas e estrelas levando-a embora. A música aumenta. Boriska vai olhando tudo por onde passa. Um arco-iris surge no meio do céu.





A câmera corta para um mendigo dormindo num banco de praça. Ele acorda e percebe uma luz vindo em sua direção. Entra em pânico e se levanta depressa. Boriska aterrissa na Terra, trazida pela luz que desaparece em seguida. O mendigo a observa escondido atrás de uma árvore.

Boriska: (olhando em volta) Ai, ai, ai, ai, ai... O que será que Boriska vai encontrar nesse lugar?

A música aumenta e a câmera vai tomando distância voltando-se para o céu.

Abertura de “Barraco, Glamour e Et's”, “Pontes Indestrutíveis/ Charle Brown Jr.”






Segundo Episódio



Ajuda-te que o céu te ajuda



CENA 01 – EXT/ TARDE – LAJE DE GUGAGuga está em cima da laje olhando para o céu através de seu telescópio e vê a luz passar.

Guga: (gritando, extasiado) Eu vi! Eu vi! Meu Deus, eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles iriam aparecer.

Uma mulher de bobes na cabeça aparece.

Tereza: Que gritaria toda é essa garoto? Quer me matar do coração?

Guga continua entretido olhando pela lente do telescópio.

Tereza: Quê que é, vai dar uma de surdo agora? Tava gritando ai que nem um desesperado e agora nem responde. Guga, Guga... Olha que eu quebro essa geringonça em mil pedaços.

Guga: (voltando a si) Desculpa mãe. É que eu acabei de presenciar um fenômeno.

Tereza: O que não é difícil aqui no bairro em que a gente vive. Com todos esses vizinhos, não é de se estranhar presenciar alguns fenômenos.

Guga: (explicando ainda agitado) Não mãe, eu tô falando de lá. (e aponta para o céu) Acabei de ver um facho de luz muito forte descendo do céu.

Tereza: (mostrando-se preocupada) Filho, você está bem?

Guga: (tranquilo) Tô mãe. Sério. Acabei de ver uma luz enorme vinda do céu. Tenho certeza que tem algo a ver com os extra terrestres. Venho notando já à algum tempo que eles vêem tentando fazer contato comigo.

Tereza: (com as mãos na cabeça) Ai meu Deus, você de novo com esse assunto?

Guga: Mas eu juro mãe. Assim que essa luz desceu na Terra, surgiu esse arco iris. (e aponta para o efeito no céu)

Tereza: (olha e constata o arco iris) É. De fato esse arco iris está bem forte. Mas isso não diz nada menino. Olha Guga, eu já falei para você deixar de mexer com essas coisas, não falei? Pára de mexer com o que você não conhece.

Guga: Mas eu conheço mãe. A senhora sabe que os assuntos de outros planetas sempre mexeram comigo.

Tereza: E comigo. Por conta disso, vira e mexe você acaba arrumando encrenca.

Guga: Eu não mãe. São os outros que implicam a toa comigo.

Nesse instante passa um bando de garotos em frente à sua casa. Um deles inicia uma conversa.

Rosendo: E ai camarada, já conseguiu encontrar vestígios de vida em outros planetas? (e cai na gargalhada)

Os garotos que estão juntos começam a rir também.

Guga: Já, já sim. Só que eu nem precisei ir procurar tão longe. Descobri por aqui mesmo. E posso garantir que são seres nem um pouco inteligentes.

Rosendo e os demais cessam as gargalhadas.

Rosendo: Cuidado hein, fica mexendo com essas coisas, pode acabar sendo abduzido. (e volta à gargalhar)

Guga: Ia achar muito bom. Só assim pedia à eles para estudarem pessoas sem cérebros como vocês.

Rosendo: (partindo para cima) Que 'cê tá falando ai...

Tereza: (se mostra para eles) Que é que vocês tão falando? Vai, se manda. Vaza daqui. Some da minha frente antes que eu cometa um ato de abdução coletiva.

Rosendo e seu bando olham a mulher e se mandam, correndo.

Tereza: (para Guga) Tá vendo filho. É por isso que eu não gosto que você se exponha dessa maneira aqui fora. Deixa esse negócio de extra terrestres pra lá. Você já foi longe demais com essa história.

Guga: Tô fazendo nada de errado mãe. O Rosendo que é atrasado demais. Mas não se preocupe não. Um dia todo mundo ainda vai me dar razão. Eu não ligo a minima pra o que eles dizem ao meu respeito. Eu sei que os et's existem e estão por ai, por toda a parte. E assim como tem os bons, também tem os maus. Por isso que eu fico preocupado. Vai que eles resolvem invadir a Terra.

Tereza: (desacreditando) E se eles invadirem você vai fazer o que?

Guga: O que vou fazer ainda não sei mãe. Mas que é melhor não ser pego de surpresa, ah, disso não tenho duvidas.

A câmera dá um close no rosto da mulher e volta para ele.



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CENA 02 – EXT/ TARDE/ PRAÇABoriska está perdida com o olhar percorrendo toda a extensão que pode observar.

Boriska: Lugar bonito esse. Só não entendo como podem acabar com ele como estão fazendo. Estão maltratando os animais, os idosos. A natureza já está respondendo. E ainda acham que isso é castigo da Suprema Inteligência. (olha pra o céu) Mas eu é quem pergunto. Será que eu vou conseguir entender alguma coisa desse povo? Se ao menos alguém falasse comigo... (várias pessoas passam por ela indiferentes)

CENA 03 – INT/ TARDE/ CASA DE TEODOROTeodoro entra em casa todo feliz. Uma mulher está sentada frente a tevê, costurando alguma coisa.

Teodoro: Bença mãe.

A mulher continua calada.

Teodoro: (insistente) Bença mãe.

Eloísa: Acha que sou surda? Já escutei. Agora sai da minha frente que estou vendo o programa do pastor.

Teodoro vai caminhando para seu quarto, quando a mulher começa a falar.

Eloísa: (fria) Seu Moisés acabou de sair daqui. Tava furioso. Falou um monte. Disse que você tá enrolando ele, e que se não pagar o aluguel vai te colocar no olho da rua.

Teodoro: E a senhora disse o que pra ele?

Eloísa: Ia dizer o que? Que não sabia onde você tava. Você some e não avisa pra onde vai. Você deve achar que aqui é pensão, não é?

Teodoro: Não mãe. Me desculpa. É que pintou um trabalho de última hora e não consegui avisa-la.

Eloísa: Teve grana pelo menos? Não, porque essa sua profissão, pelo amor de Deus hein, só dá prejuízo. Nunca te vejo ganhar nada.

Teodoro: Hoje o trabalho foi bom mãe. Consegui ganhar um dinheiro sim. Já vai dar pra pagar uma mensalidade da faculdade.

Eloísa: (indignada) A gente com falta de um monte de coisa aqui em casa e você preocupado com mensalidade de faculdade? Se deu conta do absurdo que acabou de me falar?

Teodoro: Mãe, eu já tô devendo mais de três meses na faculdade. Daqui a pouco vão me proibir até de assistir aula.

Eloísa: Também pudera. Onde já se viu fazer curso de artes? Isso não é coisa pra gente que nem “nóis”. Isso é pra gente bacana, com bufunfa. Você deveria era ter aceitado o trabalho que o seu Jorge te ofereceu no outro dia e ir trabalhar na empresa dele.

Teodoro: Mãe, eu não quero passar a minha vida sendo empregado dos outros. Quero ter meu próprio comércio.

Eloísa: Se continuar do jeito que tá, você vai acabar é na sarjeta. E passando fome.

Teodoro a olha com tristeza nos olhos.

Teodoro: É isso o que a senhora tem pra me dizer mãe? Ao invés de me incentivar diz é que vou acabar na sarjeta, e passando fome?

Eloísa: Você queria que eu dissesse o quê? Que te aplaudisse, pegasse no colo e dissesse, não meu filho, você tá certo. Acorda pra vida Teodoro. Aqui onde a gente mora ninguém tem tempo pra perder com besteira de sonhos não. Aqui a gente vive a realidade. Dura e crua como ela é.

Teodoro: Meus sonhos não são besteiras. São eles que me fazem acordar e sair pra rua diariamente pra lutar.

Eloísa: (sarcástica) Pois então tá na hora de você acordar desses sonhos rapazinho. Sonhos não enchem barriga de ninguém. Nem pagam contas no final do mês. E já que disse ter ganho dinheiro, passe algum pra cá. Tô precisando fazer umas compras aqui pra casa. O gás acabou e até agora ainda não comprei outro.

Teodoro: Mas mãe, esse dinheiro é pra pagar a faculdade.

Eloísa: (nervosa) Então vai. Vai pra sua faculdade de merda. Vai lá. Quero ver se lá eles vão te alimentar. Vai, porque nem água você vai ter pra tomar banho. Água custa dinheiro. E eu não paguei esse mês.

Teodoro: E o dinheiro que eu te dei pra isso?

Eloísa: Dei pro pastor. Ele começou uma campanha nova na igreja e disse que Deus ia dar em dobro pra quem colaborasse.

Teodoro olha a mulher e respira fundo para não soltar tudo o que está preso em sua garganta.

Teodoro: Está certo. (pega parte do dinheiro do envelope) Aqui está uma parte do que ganhei. Faça o que quiser com ela.

Eloísa: (desdenhando) Só essa mixaria?

Teodoro: É tudo o que eu posso dar.

Eloísa: Fazer o que. Me dê cá. E veja se arruma mais algum.

Teodoro pega sua mochila e caminha em direção a porta.

Eloísa: Vai sair?

Teodoro: Vou pra faculdade.

Eloísa: Aproveite e jante por lá mesmo. Não vou ter tempo de cozinhar mais nada hoje.

Teodoro respira fundo e sai. Ao passar pela porta, ele a fecha e encosta sua cabeça nela. Começa a tocar “Coração Pirata/ Instrumental/ Roupa Nova”.

Teodoro: (em pensamento) “Por que ela age dessa maneira comigo? Meu Deus, o que eu fiz pra ela? Parece que ela não gosta de mim. Eu não vejo a hora de poder ir morar sozinho, ficar longe de tudo isso. Mas quanto mais eu me esforço, mais as coisas dão erradas”.

Um homem está passando e nota Teodoro por ali. Já chega intimando-o.

Moisés: Muito bem rapazinho, até que enfim deu o ar de sua graça.

Teodoro: (todo sem graça) Seu Moisés... Eu ia mesmo procura-lo...

Moisés: Quero saber se já tem o dinheiro do aluguel?

Teodoro: Era sobre isso que eu queria falar com o senhor. Será que...

Moisés: Nem me venha com mais desculpas esfarrapadas mocinho. Ou me paga pelo menos uma parte do que me deve, ou vai para o olho da rua com toda aquela bugiganga que você chama de empresa.

Teodoro: Só mais uns dias seu Moisés. Vou fazer um trabalho que vai me dar uma grana razoável, e ai eu quito minha divida com o senhor.

Moisés: Nem pensar rapaz. Ou me paga o que me deve, pelo menos uma parte até amanhã, ou vai para o olho da rua.

Teodoro: Mas seu Moisés, como é que eu vou arranjar todo esse dinheiro até amanhã?

Moisés: Como vai conseguir, isso não me interessa, é problema seu. Se não me pagar até amanhã, será despejado. Está avisado. (e vai embora)

Teodoro: (a câmera dá um close em seu rosto) Poxa, e agora? Onde é que eu vou arranjar todo esse dinheiro e até amanhã? E ainda tenho que acertar o que devo na faculdade. Ai, tá difícil... O que eu faço?

CENA 04 – EXT/ TARDE – PRAÇA DO INTERIORJulieta está sentada num banco de praça, segurando uma flor. Vê um carro se aproximar e levanta-se. Um jovem desce do carro e caminha até ela.







Julieta: (carinhosa) Meu amor, que saudades. Não via a hora de te ver novamente.

Jhuan: (áspero, se esquiva da garota) Julieta, precisamos conversar.

Julieta: (empolgada) E eu não sei. Não nos vemos à mais de uma semana. Estava morrendo de saudades de você meu lindo.

Jhuan: É sobre isso que quero falar com você Julieta.

Julieta: Aconteceu alguma coisa? Você tá estranho...

Jhuan: Eu não sei como te falar isso, então vou tentar ser o mais direto possível.

Julieta: Você tá me assustando. O que foi?

Jhuan: (ríspido) Eu quero terminar nosso namoro.

Julieta: (sem entender) Como? Não entendi?

Jhuan: Quero terminar nosso namoro Julieta, é isso.

Julieta: Tá, mas assim? Por qual motivo?

Jhuan: A gente... Você... Eu... Não temos nada a ver um com o outro...

Julieta: Como assim nada a ver um com o outro? Até duas semanas atrás você jurava me amar...

Jhuan: As coisas mudam Julieta.

Julieta: Espera ai, concordo que as coisas mudam, mas não assim, dessa maneira.

Jhuan: Vai ser melhor para nós dois. Procure entender.

Julieta: Entender? De que jeito? Num dia você só falta me colocar no céu, e de repente, de uma hora pra outra você vem e despeja sobre mim que não temos nada a ver um com o outro. E ainda pede pra eu entender? Você acha isso justo?

Jhuan: Estou indo embora daqui, arrumei um emprego em São Paulo, e vou recomeçar minha vida por lá.

Julieta: Que ótimo. Acho bacana você querer melhorar. Eu te apoio. (brincando) Vai amor, já entendi, que susto. Você tá confuso, é normal. Mas eu vou te ajudar a superar essa crise...

Jhuan: (cortando friamente) Julieta, você não entendeu. Eu quero terminar nosso namoro. Eu não te amo mais.

A câmera pega um close no rosto de Julieta. Os olhos estão marejados. Começa à tocar “Olha pra mim/Instrumental/Mara Maravilha”. A garota demonstra forte emoção. Jhuan continua frio.

Jhuan: Bem, era isso que eu tinha para falar. Agora preciso ir.

Julieta: Mas assim, sem uma explicação? Espera ai Jhuan, eu dediquei meus últimos dois anos pra você e só isso que você tem pra me dizer?

Jhuan: Tá, tudo bem. Vou dizer. (vomitando as palavras) Você quer mesmo saber, eu te falo. Várias vezes eu pedi pra você mudar, pra você melhorar. Deixar de ser essa caipira.

Enquanto ele vai falando a câmera vai pegando o rosto de Julieta, que mostra desapontamento.

Jhuan: Mas não, você insistiu em continuar com essas roupinhas cafonas, esse jeito jeca de se portar. Várias vezes pedi pra você ir à um cabeleireiro, uma manicura. E você? O que fazia? Não ligava. Cansei. Cheguei no meu limite. (mudando o tom) Você se deu conta de como sou cheio de estilo? Bem aparentado? As garotas, as melhores, ficam loucas comigo, e eu com você, uma caipirinha que não enxerga nada além do que esse mundinho cor-de-rosa. Sem eira nem beira. Sem visão de futuro. Bem, é isso, você pediu pra falar, eu falei. Tá falado. Pronto. (se vira e vai embora)

Julieta fica visivelmente abalada. As lágrimas agora percorre-lhe a face. A música aumenta e ela vê o namorado entrar no carro, dar a partida e ir embora. Ela ainda corre atrás do carro.

Julieta: (gritando) Jhuan, espera. Jhuan! (cai no chão, chorando) Não vai embora. Não me deixe aqui sozinha.

A música aumenta. Ela se levanta e volta para a praça. Abaixa a música.

Julieta: (chorando) Eu só queria te contar a respeito da proposta que recebi de ir para São Paulo... (e paga um envelope que estava escondendo embaixo da camiseta e olha para ele chorando) Só isso...

A Câmera vai se distanciando na medida em que a música aumenta.



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Intervalo para uma água... “Barraco, Glamour e Et's” volta já!


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Voltamos com “Barraco, Glamour e Et's

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CENA 05/ EXT/ NOITEBairro de Buraco dos Sem DentesUm táxi para na vila e de dentro dele desce uma garota de mini saia e decote chamativo. Começa a tocar “Difícil de domar/Garotas Suecas”. Ela paga ao motorista e agradece. Duas moradoras estão conversando e ao vê-la, passam a falar dela.

Judite: Olha que absurdo mulher. Essa garota não tem mais jeito, se perdeu mesmo.

Safira: Tenho pena do pobre do pai dela. Deve ser muito triste ter uma filha como essa dai.

A jovem passa por elas e ouve o comentário.

Judite: (falando alto para que a garota ouça) É comadre, como estou lhe dizendo, nosso bairro já não é mais como antigamente. Essas menininhas de hoje em dia não se dão mais ao respeito.

A jovem pára e se vira para elas.

Lurdinha: (toda posuda) Pois é, as menininhas não se dão mais o respeito como antigamente. Mesmo porque, pelo que percebo olhando as senhoras, antigamente as pessoas não tinham o hábito de se respeitarem. Se tivessem, vocês não estariam ai, sem ter o que fazer, cuidando da vida alheia. Olha o feijão dona Maria. (e vai embora).

Judite: (abismada) Mas que falta de respeito. Você vê comadre, ela não respeita mais ninguém.
Safira: Onde já se viu falar com duas senhoras esse absurdo.

Judite: (disfarçadamente não concordando com a última afirmação da amiga) Se bem que não estamos tão senhoras assim...

Safira: Você tem razão. Imagine nós duas numa mini saia daquelas...

Judite: Iriamos arrasar certamente. Vamos entrar comadre, preciso contar as últimas quentinhas. Você soube que a nora do seu Edgar ficou grávida do cunhado?

Safira: Jura, não acredito.

Judite: Vamos entrar que lhe conto tudo.

A música aumenta e a câmera pega Lurdinha caminhando em direção a sua casa. Por onde passa os garotos mexem com ela.

Juquinha: Meu Deus, vai ser gostosa assim lá na minha casa...

Lurdinha: Qualquer hora dessas eu apareço por lá vice Juquinha?

Luciano: Morena, pra você eu dava casa, comida e roupa lavada viu?

Lurdinha: Se avexe não meu rei, se comparecer no momento oportuno, tá ótimo.

Ela entra em sua casa. Um senhor está olhando pela janela.

Lurdinha: Painho, cheguei. Sua benção.

Honorato: Deus lhe abençoe viu minha filha. Maria de Lurdes por onde andou até uma hora dessa?

Lurdinha: Oxê, que preocupação toda é essa agora? Resolveu ser o painho convencional foi?

Honorato: É que fico preocupado minha pretinha. Sabe que sou um velho, você some e não avisa onde tá, nem com quem tá. Ai fico com a minha cabeça nos cascos, num sabe?

Lurdinha: (carinhosa se aproximando dele) Pois tire essas caraminholas de sua cabeça meu pai. Tava curtindo a vida, só isso. O senhor tá bem?

Honorato: Tô, na medida do possível...

Lurdinha: É isso que importa painho. Olhe, vou tomar um banho porque to que não me aguento com essa poeira no corpo. Depois vou querer comer um pouco de sua muqueca com camarão, porque to varada de fome.

Honorato: E como tu soube que fiz muqueca de camarão?

Lurdinha: Conheço esse cheiro de azeite de longe. (e vai para seu quarto)

Honorato: (falando para si mesmo) Ah, essa minha filha.

CENA 06/ EXT/ NOITE – Oficina de ManuManu está terminando de fechar o capô de um carro. Teodoro chega.

Teodoro: Fala Manu, tudo tranquilo?

Manu: Comigo sim. Mas ae irmão, que tá pegando? Que cara é essa?

Teodoro: Nada não, coisa boba.

Manu: Hum, já sei. Tua velha de novo, acertei?

Teodoro: É, minha mãe tem haver também, mas dessa vez é por outro motivo.

Manu: Nem precisa dizer. Tá precisando de quanto dessa vez?

Teodoro: O aluguel cara, seu Moisés falou um monte pra mim. Disse que se eu não pagar parte do que devo, amanhã mesmo ele me despeja.

Manu: Já entendi. Você pediu um tempo a mais pra ele?

Teodoro: Pedi, mas ele nem quis saber de ouvir.

Manu: E agora, você vai fazer o quê?

Teodoro: Ainda não sei. Talvez eu faça um trabalho amanhã que me renda um bom dinheiro. Pelo menos tô contando com isso. Se não rolar, tô lascado.

Manu: E quanto é que você precisa pra quitar essa divida com seu Moisés?

Teodoro: Uns quatrocentos e cinquenta.

Manu: (abre uma gaveta e pega um dinheiro) Toma ai mano, paga teu aluguel.

Começa a tocar “Coração Pirata/Instrumental/Roupa Nova”.

Teodoro: Não, não Manu. De jeito maneira posso aceitar. Já tô te devendo muito. Pode deixar que eu me viro.

Manu: Pega de boa moleque. Fica sussa. Tu é meu camarada e jamais ia te deixar numa situação embaraçada. Paga teu aluguel, ajeita o “Barraco” e atraia bons trabalhos.

Teodoro: Ai meu amigo, não sei nem o que te dizer. (e coloca de novo sobre a mesa)

Manu: Pois então não diga. Pegue esse dinheiro e pague o que tu deve.

Teodoro: Tenho batalhado tanto Manu, mas tá difícil viu. Ainda não dei uma dentro, acredita? Abri o “Barraco” achando que ia lucrar com isso, mas até agora só tenho tomado prejuízo.

Manu: Tu tem que ter fé, velho. Não desanimar, tá ligado? O caminho pra se atingir o sucesso não é nem um pouco fácil.

Teodoro: E quem disse que a vida é fácil pra alguém? Nessa vida só vencem os determinados.

Manu: Exatamente mano, gostei de ver. A vida só sorri pra quem não tem medo dela. Pra quem enfrenta com coragem os obstáculos que ela impõe dia após dia. Tua agência de publicidade, o “Barraco”, por exemplo, ainda vai bombar, 'cê vai ver.

Teodoro: (desanimado) Só não sei como.

Manu: Ajuda-te que o céu te ajuda!

Teodoro: Mas como?

Manu: Não desistindo. Acreditando. Tá certo, as coisas não tão indo muito bem pro seu lado. Mais uma razão pra tu persistir. Deus tem seus próprios meios de intervir em nossas vidas Teodoro. Faça sua parte e deixe o resto nas mãos de Deus. Ele saberá como guia-lo da forma mais acertada. Confia no Senhor, meu amigo. Ele não há de deixá-lo na mão. Mas enquanto isso não acontece, fica com essa grana. (e coloca o dinheiro nas mãos do amigo) Assim que você tiver, me paga numa boa.

Teodoro: (emocionado) Poxa Manu, to sem palavras novamente.

Manu: Precisa dizer nada não mano. Sei da tua luta cara. Te admiro por isso. E toda essa determinação vai te levar longe. E ai quando tu for um ator famoso, me coloca naquelas baladinhas vip's. Fechô?

Teodoro: (muito emocionado) 'Brigado mesmo cara. Você tem sido um grande irmão.

Manu: Vai lá moleque. Vai pagar teu aluguel. E lembre-se; ajuda-te que o céu te ajuda!

Teodoro: (falando para si mesmo) Ajuda-te que o céu te ajuda. Tai, você tem mesmo razão. (e sai. A música aumenta)



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Intervalo para uma água... “Barraco, Glamour e Et's” volta já!



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CENA 07/ EXT/NOITE – PRAÇABoriska está sentada na calçada, com as mãos apoiando o queixo. Teodoro passa e notando o estado dela a cumprimenta.

Teodoro: Oi, tá tudo bem ai?

Boriska: (sem dar muita atenção) Tá.

Teodoro: É que você tá com uma cara.

Boriska: Se for por isso, a sua também não está lá uma das melhores.

Teodoro: Talvez porque eu não esteja num dos meus melhores dias.

Boriska: Acho que eu também não.

Teodoro senta-se ao lado dela.

Teodoro: Ás vezes me sinto em et, sabia?

Boriska: Pois eu não me sinto. Eu sou uma et.

Teodoro: (tentando consola-la) Também não é pra tanto. Você é uma garota muito simpática.

Boriska: Obrigada. (e olha pela primeira vez. Começa a tocar “Buscar Vida/Instrumental/Paralamas do Sucesso”) Sabe, você foi a única pessoa que falou comigo desde a hora que cheguei. Todos que passaram por mim, me olhavam com indiferença. Quer dizer, isso quando olhavam.

Teodoro: Entendo. Infelizmente algumas pessoas agem dessa forma por aqui.

Boriska: No meu planeta todos se cumprimentam. (a música abaixa)

Teodoro: Na sua cidade, você quer dizer.

Boriska: É, e no meu planeta também.

Teodoro: Ah! (e faz cara de “que pessoa mais estranha”)

Boriska: Tô com uma fome.

Teodoro percebe que ela está sem dinheiro. Coloca a mão no bolso e encontra algumas moedas a mais.

Teodoro: Bom, se você quiser, posso te pagar um dog.

Boriska: O que é isso?

Teodoro: Você não sabe o que é um cachorro quente?

Boriska: Não. O que é?

Teodoro: Vem comigo. (e caminham atá a carrocinha de cachorro quente do outro lado da praça)

Teodoro: (para o dogueiro) Dois por favor.

Dogueiro: Completo os dois?

Teodoro: Sim, e no capricho, por favor.

O dogueiro entrega o primeiro, que Teodoro passa para Boriska. Em seguida pega o seu. Boriska come rapidamente o seu.

Boriska: Bom isso!

Teodoro: (impressionado com a rapidez da jovem e sensibilizado por sua fome) Tome, fique com esse também.

Boriska: Obrigado.

O mendigo que viu Boriska aterrissar na Terra aparece.

Praxedes: (para Boriska) Sai de perto dele Satanás. Volte para as profundezas do inferno.

Teodoro: O que é isso Praxedes? Ficou maluco, falar dessa forma com a moça.

Praxedes: Ela é o Satanás. Eu vi quando Deus expulsou ela do céu hoje pela tardinha. Foi expulsa de lá e quer instalar seu reino de perdição por aqui.

Teodoro: Nada disso Praxedes, a moça só...

Boriska docemente se aproxima de Praxedes. A música instrumental aumenta. Olhando em seus olhos com ternura, lhe acaricia a face.

Boriska: Que espécie mais interessante. Vejo tanta bondade em seu coração. Mas vejo também muita tristeza.

Praxedes fica desconcertado.

Praxedes: (querendo disfarçar a emoção) Ei, sai pra lá Satanás.

Teodoro: Praxedes, não seja mal educado. Ela está sendo gentil com você.

Praxedes volta a olhar Boriska desconfiado. Como se a estivesse avaliando.

Praxedes: Então dá uma moeda pra eu tomar uma cachaça.

Boriska: Boa espécie, não tenho nenhuma. E cachaça parece ser ruim.

Teodoro interfere e lhe dá algumas moedas.

Teodoro: Tome Praxedes, é tudo que tenho.

Praxedes: Valeu garoto. Se cuida hein Satanás. Tô de olho em você. (e vai embora).

Teodoro: Bom, agora eu preciso ir. Já tô atrasado.

Boriska: Tudo bem. Até logo. E obrigado pelo dog.

Teodoro está indo embora quando olha para trás e nota que Boriska voltou a sentar no mesmo lugar.

Teodoro: Desculpa perguntar, mas você não vai pra sua casa?

Boriska: Minha casa fica muito longe daqui.

Teodoro: Hum, já entendi. Não tem onde ficar, não é mesmo?

Boriska balança a cabeça em negativo.

Teodoro: Tá, tudo bem. (falando para sim mesmo).Tenho sido muito ajudado. Seguinte, eu tenho um lugar, é pequeno, simples... Se você quiser, pode passar a noite lá.

Boriska: Tá me convidando para dormir na sua casa?

Teodoro: É, não é bem uma casa... Mas numa situação como essa, penso que pode ser uma boa. Tá a fim?

Boriska: Mas é claro! (e o abraça)

Teodoro sente uma cocega boa na alma e sorri.

CENA 08/ INT/ BARRACO PRODUTORAOs dois chegam e entram na produtora. Lugar simples com pouco móveis. Ou quase nenhum.

Teodoro: Bem, seja bem vinda à minha humilde produtora.

Boriska: Produ, o que?

Teodoro: Produtora. Vai dizer que também nunca ouviu falar?

Boriska: Não, nunca. Mas aqui é bem acolhedor. Tem uma energia boa.

Teodoro: Só ainda não descobriram isso...

Boriska: Quem?

Teodoro: Não, tô pensando alto mesmo. Não é ninguém em específico. Ah propósito, nem nos apresentamos.

Boriska: Nossa, é verdade. Que distração.

Teodoro: Me chamo Teodoro, prazer (e estende a mão)

Boriska: Teodoro? Que nome bonito. Eu me chamo Boriska.

Teodoro: Boriska? Que diferente.

Boriska: Lá em Ashu-Khar, os nomes são todos desse jeito.

Teodoro: Ashu-Khar?

Boriska: Sim, o planeta de onde eu vim.

Teodoro: Perae, que agora você tá me confundido. O que você quer dizer quando diz seu planeta? Por acaso você é de outro lugar que não seja a Terra?

Boriska: Sim. Sou de Ashu-Khar. Um planeta bem distante da Terra.

Teodoro: Ah, fala sério. Você que não quer que eu acredite que você veio de outro planeta, quer?

Boriska: Não precisa acreditar se não quiser. Mas é a verdade.

Teodoro: E como você quer que eu acredite numa coisa dessa?

Boriska vai até a mesa. Se concentra e faz os objetos levitarem.

Teodoro: Meu Deus! Você é uma extra terrestre?

Boriska: Sim, sou.

Teodoro: (assustado) Sai pra lá, se afasta de mim. Ai meu Deus, por que eu não dei ouvidos pro Praxedes, ele tinha razão.

Boriska: Teodoro, não precisa ter medo de Boriska. Boriska ser do bem. Não fazer mal pra ninguém. Se quiser Boriska pode ir embora.

Teodoro lembra-se do que Manu lhe disse:
Ajuda-te que o céu te ajuda

Teodoro: (voltando a si) Não, não. Desculpe-me pelo mau jeito. É que não estou acostumado à encontrar uma extra terrestre todos os dias não é?

Boriska: Entendo. Eu também não estou acostumada à encontrar seres humanos todos os dias.
Os dois se olham por alguns instantes e a seguir caem na gargalhada.

Teodoro: Mas me diga, o que veio fazer aqui na Terra?

Boriska: Hum, isso é uma longa história. Quer mesmo saber?

Teodoro: Opa, quero sim. E quer saber, não vou hoje pra facu. O acontecimento merece minha atenção.

A música aumenta e os dois entram numa conversa profunda.

Teodoro: Quer dizer que você veio para estudar a minha raça?

Boriska: Isso mesmo. Só que como lhe falei, tenho muito medo de humanos.

Teodoro: Que história mais louca! Uma extra terrestre que tem medo de humanos. Geralmente acontece o contrário...

Boriska: Mas é a pura verdade.

Teodoro: Mas se você veio para estudar os humanos, então você é uma espiã, certo?

Boriska: Acho que sim.

Teodoro: E vai levar as informações para o seu povo para destruírem o meu?

Boriska: A principio era essa a idéia.

Teodoro: O que mudou?

Boriska: Ter te conhecido. Se existe alguém de bom coração assim como você, com certeza deve haver outros semelhantes também. Seria injusto deixar que seres assim fossem banidos do Universo.

Teodoro: E o que você vai fazer?

Boriska: Ainda não sei. Mas vou pensar em algo que faça meu pai mudar de idéia.
Teodoro: Posso confiar em você?

Boriska: Deve. Vai ser uma honra ter a confiança de um ser nobre como você.

Teodoro: (ainda tentando entender) Mas se você diz que o motivo pra que seu pai tenha lhe dado essa missão foi o fato do meu povo estar emitindo tanta energia negativa, isso é muito grave. A gente precisa fazer alguma coisa pra parar isso.

Boriska: Pode contar comigo. A partir de agora, essa vai ser minha missão. Quer dizer, nossa. Ajudar às pessoas à terem mais alegria e amor no coração.

Teodoro: Isso ai, vamos explodir o mundo de tanta alegria.

Boriska: Explodir?

Teodoro: (sorri) Só o modo de falar.

Ambos sorriem e continuam a conversar.


CENA 09/ EXT/ DIA/ CEMITÉRIOOlegário, Ana Flor, Anisia e as irmãs estão envoltas do caixão. Deolinda será enterrada. Teodoro chega. Olegário o vê e vai falar com ele.




Teodoro: Me desculpe doutor, cheguei agora porque acabei perdendo a hora...

Olegário: Não se preocupe. O importante é que chegou à tempo de assistir o sepultamento.

Ana Flor vê os dois conversando e vai até lá.

Ana Flor: (para Teodoro) Você aqui? (para Olegário) Vocês se conhecem?

Um clima tenso surge no ar. Música de suspense instrumental começa. Teodoro e Olegário se olham na medida que Ana Flor deseja uma explicação. A câmera percorre o rosto dos três e congela em Teodoro. A tela escurece.

Voz narrada: Agora o bicho vai pegar. Será que Teodoro contará a verdade para Ana Flor? E se tratando de verdade, será que Olegário finalmente vai acabar com todo esse mistério? Boriska vai se adaptar na Terra? Não perca essas e muitas emoções que ainda estão por vir em “Barraco, Glamour e Et's”

CREIA... ACREDITE... MUDE!!!

1º Episódio - "Entre um Planeta e a Terra"

A cena abre com um jovem adentrando um cemitério. Está visivelmente deslocado, tenso. Caminha, olha os túmulos e chega até uma mini capela. Fica prostrado na porta, e nota no meio do lugar, um caixão. Algumas poucas pessoas estão ao lado esquerdo comentando qualquer coisa em voz baixa. Ele olha para as pessoas, olha para o caixão, e depois de respirar fundo vai até o objeto. As pessoas continuam conversando e nem notam sua presença. Ele passa a olhar a pessoa que está dentro do luxuoso caixão e num rompante só, desaba a chorar. Atrai a atenção das pessoas para si.

Teodoro: (chorando muito) Por que você fez isso? Você não podia me abandonar desse jeito. O que vai ser da minha vida agora sem você? (volta a cair no pranto)

Anisia: (intrigada) Alguém por acaso pode me explicar o que está acontecendo aqui? De onde saiu esse indivíduo?

Wilma: Você não o conhece?

Anisia: Nunca vi mais magro.

Lorena: (compadecida) Tadinho, pelo jeito ele gostava muito dela.

Anisia: (cortando) Gostava? Gostava como Lorena? Quem é esse rapaz, o que está fazendo aqui? Será que não respeitam a gente nem numa hora difícil como essa? Vou pedir a um segurança que o tire daqui.

Olegário: Deixe Anisia. (e a pega pelo braço) Aqui não é o lugar tão pouco momento para fazer um escândalo.

Anisia: Ora Olegário, escândalo por escândalo esse ai já está fazendo. (e solta-se dele)

Olegário: Não vê que ele está sofrendo. Vamos respeita-lo. Se está aqui de certo a conhecia.

Lorena: O Olegário tem razão Anisia. Deixe o garoto despedir-se de Deolinda. Ninguém por aqui está mesmo chorando por ela. Deixe que pelo menos esse desconhecido regue um pouco a alma da pobre.

Anisia: Cale essa boca, idiota. Desde quando lágrimas, ainda mais de um qualquer como esse ai, podem regar alma de alguém como Deolinda?

Lorena: Não falei por mal, só queria ajudar.

Anisia: Pois se quer ajudar, o melhor a fazer é ficar calada.

Olegário: Anisia, olhe os modos.

Anisia: (imitando) Anisia, olhe os modos! Como é que posso ter modos sabendo que o velório de minha mais velha irmã foi invadida por um estranho? Aqui ninguém sabe quem é ele nem de onde veio. E se for um marginal? Já pensaram no perigo que estamos correndo?

Wilma: (compadecida) Não creio que ele seja perigoso. Olha para ele, tão novinho... E parece mesmo estar sofrendo. Acho que vou até lá consola-lo.

Anisia: Nem pense numa coisa dessa Wilma. Se quer continuar frequentando minha casa é melhor que fique onde está.

Lorena: Mas a casa é de Deolinda...

Anisia: (mudando de tom) Sim, a casa é de minha saudosa irmã, que Deus a tenha (e faz o sinal da cruz). Mas na ausência dela, eu é quem terei que cuidar de tudo. (mostra-se extremamente sentida) E eu farei esse sacrifício em nome de todo amor que tinha por ela já que agora sou eu a mais velha da família.

Lorena: Amor? Sei... Como se fosse um grande sacrifício morar naquela mansão...

Anisia: O que disse sua estaferma?

Lorena: (partindo pra briga) Que você é mui...

Olegário: Agora chega! Será que vocês duas não respeitam nem o velório da própria irmã?

Anisia: Você deveria se preocupar era com a entrada de qualquer um aqui, isso sim. Sempre contra mim, não é Olegário. Você nunca fica a meu favor.

Olegário: Não me encha com suas lamentações. Não vê que também estou sofrendo?

Anisia: (irônica) Até demais da conta. Parece até que foi sua esposa quem morreu ao invés da cunhada...

Olegário: Vou me limitar a não dar a resposta que você merece.

Wilma: Gente, gente... Eu vou lá... Coitadinho... ? É de cortar o coração.

Olegário: Vá Wilma. Faça isso. Se o garoto está sofrendo é porque de certo sente algo por Deolinda. Não é como umas e outras que não estão nem esperando o corpo da irmã esfriar. (para Anisia e Lorena) Bando de urubus!

Lorena: Ai credo, que homem grosso.

Wilma se aproxima de Teodoro. Coloca a mão sobre o seu ombro.

Wilma: Fique tranquilo meu jovem. Ela está em paz.

Teodoro para um instante de chorar, olha para o rosto da mulher e parte para abraça-la desconsolado.

Wilma: (admirada) Calma meu bem, calma. Fique calmo. Venha, vamos tomar uma água.

Teodoro vai com ela, mas vira a cabeça para olhar a defunta no caixão. Chegam ao bebedouro.

Wilma: Tome filho, beba essa água.

Teodoro: (segurando o copo) Obrigado. (dá um gole, e suspira fundo).

Wilma: Me diga, quem é você? De onde conhece Deolinda?

Teodoro a olha e volta a chorar.

Wilma: Calma, calma. Tudo bem, tudo bem. Beba um pouco mais de água. É melhor mesmo não falar nada. Sente-se aqui. Vou voltar lá para dentro e quando você se sentir melhor volta também. Tudo bem?

Teodoro: (olhando desconfiado e limpando o nariz na manga da camisa) Hunrum. (soa o nariz)

Wilma: (mostra-se enojada) Com licença.

Wilma volta para a mini capela. Olegário vai falar com Teodoro.

Olegário: Muito bem garoto. Você trabalhou muito bem.

Teodoro: (ainda soando o nariz) Obri... (dá um forte suspiro) Obrigado.

Olegário: Veja, aqui está o combinado. (e lhe entrega um envelope) Pode conferir se quiser.

Teodoro: (se recompondo) De boa chefia, nem precisa. Confio no senhor. (e guarda o envelope no bolso da calça).

Olegário: Mais uma coisa.

Teodoro: Pode dizer doutor.

Olegário: Fique livre até amanhã. Pode ser que eu ainda necessite de seus serviços.

Teodoro: O doutor é quem manda. (suspira) Qualquer coisa é só me dá um toque que eu apareço. Só ligar no “Barraco”.

Olegário: “Barraco”. Nome diferente para se dar á um negócio de trabalho.

Teodoro: Tenho meus motivos por ter colocado esse nome, doutor.

Olegário: Bem, você é quem sabe. Ficamos então combinados?

Teodoro: Fechou! (e estende a mão para o homem).

Abertura de “Barraco, Glamour e Et's”: “Pontes Indestrutíveis” / Charle Brown Jr."

Episódio Um

Entre um planeta e a Terra

A cena abre com a música “Coração Pirata/Roupa Nova”. Teodoro está saindo do cemitério mostrando-se agora feliz. Limpa ainda as poucas lágrimas que restaram-lhe na face. Senta sobre um tumulo e pega o envelope do bolso.

Teodoro: Caraca meu, esse foi o dinheiro mais fácil que recebi. Ser ator nessas horas ajuda e muito! (sorri) O único problema foi chegar perto da defunta. Tenho pavor! (percebe que está sobre o tumulo. Olha para a foto de um homem que parece estar olhando para ele) Opa camarada, desculpa ae, foi mal... (ainda de posse do envelope nas mãos) Ganhar dinheiro chorando em velório... Taí, acho que vou seguir a profissão... (se contradiz) Não, não... Melhor não. Fiz isso porque tava precisando de grana mesmo. (fica sério) Tá difícil tocar o “Barraco”, ninguém me contrata pra mais nada... Será que eu vou pro inferno por isso? (muda o semblante) Nada, não fiz nada de errado. Na pior das hipóteses fiz uma troca justa. Dei minhas lágrimas praquela senhora e ela me deu o dinheiro que eu precisava. Pelo menos ela não vai chegar no céu ou no inferno sequinha... Ai meu Deus, quê que eu to falando? (olha para o céu) Desculpa Deus, não fiz por mal. Só fiz mesmo porque to precisando da grana. Mais uma mensalidade da facu vai vencer e eu já to devendo várias. Daqui a pouco me proíbem até de entrar lá. E ainda tem o aluguel do seu Moisés.(coloca a mão sobre a cabeça) Putz, o seu Moisés... Meu, viver como gente grande não é fácil...

Uma garota por Teodoro correndo e chorando. Ele fica curioso e a segue. Ela entra na mesma capelinha onde ele estava. Escondido se aproxima. A garota está chorando com sentimento. Nota que ninguém, a não ser o homem que o contratou, tenta consola-la.

Ana Flor: (amparada por Olegário) Tadinha da tia pai. Ela sempre tão bondosa, não merecia morrer. Nunca conheci pessoa mais generosa que ela...

Olegário: (com voz terna) Sua tia está melhor agora meu bem. Tenho certeza que agora ela poderá descansar.

Ana Flor: (desconsola e com muitas lágrimas) Por que pai? Por que as pessoas boas precisam morrer? Tem tanta gente ruim no mundo só fazendo maldade para os outros e justamente uma pessoa como tia Deolinda é quem vai embora?

Olegário: Sua tia fez uma linda passagem por aqui, filha. Ajudou muita gente, foi generosa. Fez de sua vida uma linda missão de ajudar o próximo. Vamos pegar isso como exemplo e sermos muito grato por tudo quanto ela fez por todos nós.

Ana Flor: Tanta coisa que eu ainda queria dizer para ela pai, e não disse. Não deu tempo.

Olegário: Ana Flor, fique em paz minha querida, sua tia Deolinda sabia exatamente tudo o que você sentia por ela. Seu amor por ela aliás, foi algo que sempre a deixou motivada.

Ana Flor o abraça, enquanto se deixa ser consolada nos braços do pai. Teodoro escondido, observa tudo.

A cena muda para Madri. Um evento de moda. A câmera percorre por um luxuoso salão onde muitas modelos bonitas se preparam. Toca música eletrônica. Corta para uma bolsa. Barulho de celular. Lúcia está sendo maquiada. Close no rosto dela através do espelho.

Lúcia: (abre a bolsa e pega o celular) Alô, mãe? E ai, como você está? O quê, tia Deolinda faleceu? (levanta-se, e diz para a maquiadora parar. Vai para fora) Como foi isso? Que triste essa noticia. Não, infelizmente não poderei ir agora. Estou no meio de um grande desfile. (tentando explicar) Eu sei mãe, é minha tia, mas não posso fazer nada. (mostrando-se indiferente) E também o que eu vou fazer ai agora, ela já está morta mesmo! Vem cá, quando vai ser a leitura do testamento? O que será que essa velha deixou para mim? (com desdenho) Pois é, já que a queridinha dela sempre foi aquela sonsa da Ana Flor... E ela, como é que está? (feliz) Sofrendo? (sorriso irônico) Ai que peninha que eu estou da prima... Bem feito praquela enjoada. Quero ver agora como ela vai se virar sem a proteção da “titia querida”. (chamam por ela) Já estou indo. (de volta ao celular) Mãe, preciso desligar, estão me chamando. Depois a gente se fala. Beijo. (close em seu rosto) Hum priminha linda, logo logo estou voltando para ocupar o meu lugar. (sorri maquiavelicamente e volta para a maquiagem)

A câmera se volta para o céu. Música com sons do espaço. Vai aparecendo na tela estrelas, planetas. Estamos numa outra galáxia. Numa sala, um enorme telão mostra imagens de tudo o que já vimos anteriormente. Vemos três seres. Um parece ser o líder, enquanto as outras duas ficam do lado oposto de onde ele está.

Capitão Tucker: Vocês estão vendo? É isso que essa raça tem feito com o planeta de origem. Maltratado os animais, as pessoas de idades mais avançadas. Estão acabando com a própria fonte de vida que é a água. Infelizmente, nós seres mais evoluídos acabamos por captar toda essa energia... (incisivo) Energia negativa, diga-se de passagem. (com uma das mãos sobre a cabeça) Ai, que raça mais “involuída”. Se ao menos se preocupassem em fazer o bem, em ajudar de alguma forma o Universo, nossa atmosfera não estaria tão pesada como está.

Foriska: (com muita sede nas palavras) Vamos destruí-los papai? Vou adorar ter a oportunidade de exterminar esses insetos.

Capitão Tucker: (pensativo) Isso era tudo o que eu mais temia. Ter que um dia chegar ao ponto de eliminar essa raça. Tantas oportunidades que tiveram de demostrar compaixão, misericórdia, nobreza... Mas não, sempre alguém querendo levar vantagem sobre o outro. Sempre alguém se mostrando mais importante do que o outro. Que grande tolice isso! A Suprema Inteligência, a mesma que nos criou, os criaram perfeitos. A ganância, a inveja, essa possessão sobre o outro. Isso foi o fato determinante e causador desse buraco no Sideral. E nós por vivermos aqui, estamos pagando pelos efeitos causados por eles. (nervoso) Muito que bem, já que eles são os únicos responsáveis por toda essa onda de avivamento do negativismo, já decidi: iremos deleta-los do Todo!

Foriska: (com os olhos brilhando de tanta maldade) Muito bem papai, muito bem. Vamos acabar com esses terráqueos que só ocupam espaço no universo. Vamos transforma-los em poeira cósmica.

Capitão Tucker olha para Boriska que está calada, pensativa, apenas observando as imagens no telão.

Capitão Tucker: E você Boriska, o que acha disso tudo?

Boriska: (tímida) Eu... Bem papai... É que...

Foriska: (interrompendo-a) Diga logo de uma vez o que pensa. Parece mais o que eles chamam de um “cd riscado”.

Boriska: (se aproxima da tela. Uma música instrumental suave começa a tocar) Eu penso que... Eu tenho muito medo deles.

Foriska: (debochando) Medo? Medo dos humanos? Era só o que faltava.

Capitão Tucker: Deixe sua irmã completar o que iria dizer Foriska.

Boriska: (olhando fixo para a tela) Eles são... Esquisitos... Estranhos... Parecem...

Foriska: (num rompante só) Et's?

Capitão Tucker: (autoritário) Foriska, não vou falar novamente.

Foriska: (de cabeça baixa) Me desculpe papai.

Capitão Tucker: Prossiga Boriska. Diga tudo o que pensa.

Boriska: O modo como alguns se tratam. Dizem que amam, mas enganam quem amam. São capazes de qualquer atrocidade para terem o que eles chamam de dinheiro. (aproxima-se da tela e passa a mão na imagem do que vê, observando atentamente) Parecem ter tudo para serem felizes, mas estragam essa própria felicidade. Não entendo isso. Por que eles agem dessa maneira papai?

Capitão Tucker: (com o olhar fixado sobre a tela) Eles esqueceram o motivo principal por estarem ali.

Boriska: (curiosa) E qual é esse motivo?

Capitão Tucker: O amor minha filha. O amor é a única razão pelo qual todas as coisas foram criadas. A Suprema Inteligência ao nos criar, digo nós, englobando tudo que existe no Todo, foi sagaz ao nos dar esse privilégio. Uma pena é ver uma raça que tinha tudo para se superar, viver com sentimentos tão pequenos, mesquinhos...

A música aumenta. Foriska está apenas esperando a ordem do pai para começar sua “destruição”. O som abaixa.

Boriska: Tá, tudo bem. Eu mesma disse que eles se amam e enganam a quem amam. Mas, eu nunca entendi muito bem... O que é o amor?

Foriska: Ah fala sério etezinha. Você não vai querer falar sobre toda essa baboseira logo agora, não é?

Capitão Tucker: (interrompe) Muito boa sua pergunta filha... E Foriska, o amor não é baboseira... O amor... A gente não explica. Não há como explica-lo. O amor a gente sente. (para Boriska) Já reparou como as flores ficam todas as vezes que você as rega?

Boriska: Parecem alegres. Ficam mais vivas.

Capitão Tucker: Pois ai está o segredo da vida. Saber regar com o que você tem de melhor.

Boriska: (ingênua) O amor é então uma regada nas flores?

Capitão Tucker: O amor é o que você deposita nelas quando as está regando. Ou seja, toda aquela sensação boa que você sente, acaba passando para elas. E ai elas ficam mais vivas e alegres. É a energia que você passa que faz a diferença.

Boriska: Hum...

Capitão Tucker: Se ao invés de pensarem coisas ruins, terem maus pensamentos, os humanos fizessem o contrário, não estaríamos prestes a entrar numa guerra. É preciso pensar no bem. Sempre. No próprio bem, como no bem coletivo. E não perder tempo com pensamentos que não vão leva-los a lugar nenhum, senão a própria destruição.

Boriska: E eu, também tenho que regar?

Capitão Tucker: (sorrindo) Você um dia irá descobrir a flor que deve regar. E quando a encontrar, regue com todo sentimento que acaricie tua alma.

Boriska: (parece não entender as palavras do pai e se volta para o telão) Tá bom!

Foriska: Tá papai, agora que o senhor já nos deu toda essa explicação, podemos começar a destruir esse planetinha mal projetado?

Capitão Tucker: (com toda calma) Não existe planetinha mal projetado, filha. O que existe, são maus gerenciadores.

Foriska: Isso quer dizer o quê?

Capitão Tucker: Que Boriska irá para a Terra estudar o comportamento dos seres humanos antes da “grande invasão”.

Foriska faz cara de desaprovação.

Boriska: (surpresa) Ah papai, eu? Não, não... Sem essa. Eu não quero ir não.

Capitão Tucker: (paciente) Está na hora de você ter mais contato com a vida Boriska. Já não tenho como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A Suprema Inteligência me conferiu poderes que preciso passar a vocês minhas filhas.

Boriska: (querendo se safar) Então manda a Foriska. Ela tem mais a ver com esse tipo de missão. E tá com mais vontade que eu. Me mande para outro lugar, fazer outra coisa papai... Mas ir para a Terra, nem pensar.

Capitão Tucker: Boriska, você ainda não entendeu que não somos nós que escolhemos as tarefas? São elas que nos escolhem.

Boriska: E todo aquele lance de cada um escolher seu próprio caminho, no outro dia?

Capitão Tucker: (sorrindo novamente) Você pode escolher o seu próprio caminho, sem problema algum. Mas existem tarefas que são inerentes a você seja qual caminho deseje trilhar.

Boriska: Sei não. Isso é muito confuso para minha cabeça. Você é bom demais nas palavras e eu acabo me perdendo.

Capitão Tucker: (sorrindo) Sei que vai conseguir se sair bem nessa missão, minha filha. Senão não a colocava em suas mãos.

Foriska: (enciumada) Tá dizendo que eu não tenho capacidade papai?

Capitão Tucker: Sei que você é muito capacitada filhinha. Mas essa, é de sua irmã. Você ainda é muito nova, e terá sua missão no momento certo. Não queira se precipitar.

Foriska bate o pé e sai do lugar. A música suave aumenta. Boriska está olhando o telão com os braços envoltos ao corpo. O pai se aproxima dela.

Capitão Tucker: Não tenha medo Boriska. As respostas para as suas perguntas estarão sempre dentro de você. Um dia entenderá meus motivos para pedir que você faça esse trabalho. Tudo tem um propósito filha. Nada está errado. Nada está certo. É tudo uma forma como encaramos os fatos que determinam aonde vamos chegar, e como vamos chegar. Infelizmente os humanos tem agido de forma displicente, e colocado em risco a vida do Universo. A natureza já começou a responder. Vá, estude o comportamento deles, tente descobrir o por que deles agirem dessa forma. Quero ter o relatório completo e entender os motivos antes de extermina-los.

Boriska: Você vai mesmo acabar com eles?

Capitão Tucker: (olhando o telão) Vou filha. Vou.

Muda a cena. Estamos novamente no cemitério. Ana Flor está sentada sozinha no banco do jardim olhando para o nada. Teodoro vai se aproximando lentamente. Abaixa-se para pegar uma flor que está no chão. Senta-se no banco. Ana Flor está dispersa. Teodoro faz uma tentativa de diálogo.

Teodoro: (olhando para o céu) Eu tenho certeza que as pessoas boas vão para bons lugares depois que morrem.

Começa a tocar “Não vá embora(instrumental)/Marisa Monte”. Ana Flor o olha com os olhos encharcados.

Ana Flor: (voz embargada) Será?

Teodoro: (ainda olhando o céu) Tenho certeza.

Ana Flor: (com emoção na voz) Quem a gente gosta não deveria nunca se separar da gente. É muito triste pensar que nossa vida nunca mais terá a voz, o carinho, o amor de quem se vai...

Teodoro: (virando-se para ela) Quem a gente ama de verdade, nunca morre. Fica pra sempre guardado nas nossas lembranças, no nosso coração...

Ana Flor: Mas não é a mesma coisa. Dá uma sensação de vazio. Um aperto aqui dentro. (e volta a chorar)

Teodoro: Não fica assim. Com certeza a pessoa por quem você está derrubando lágrimas não iria querer vê-la sofrendo.

Ana Flor: Perdi a pessoa que mais amei na vida.

Teodoro: Sua mãe?

Ana Flor: Não. Mas era como se fosse. Foi alguém que cuidou de mim a vida inteira como uma filha.

Teodoro: Entendo.

Ana Flor: (limpando as lágrimas) E você, o que faz aqui?

Teodoro: (disfarçando) Uma amiga que não via a muito tempo faleceu. Mas tenho certeza que ela está melhor agora.

Ana Flor: Por que diz isso? Ela sofreu muito antes de morrer?

Teodoro: Não. (lembrando-se da cena) Mas o jeito como a família se portou perante o velório foi suficiente pra perceber que não estavam nem ai para ela.

Ana Flor: (lembrando-se da família) Entendo.

Teodoro pega a flor que está sobre sua perna e entrega a garota.

Teodoro: Tome. Essa flor representa meus sentimentos para você.

Ana Flor o olha nos olhos. A música passa a ser cantada. Pessoas estranhas passam entre eles, e ela o olha como se algo penetrasse em seu olhar.

Ana Flor: Obrigada.

Teodoro aproxima-se e coloca seu braço envolto ao dela. Ela consente e ainda deita a cabeça sobre o ombro do jovem. A música aumenta e a câmera vai se distanciando pelo alto. A cena muda para o velório. O salão está vazio. Apenas o caixão e Olegário ao lado dele.

Olegário: (emocionado) Descanse em paz, meu amor. Eu prometo cumprir a promessa que lhe fiz. Eu juro. De onde você estiver, ficará feliz quando seu desejo em vida, for realizado. E eu já tenho novidades. Muito em breve suas irmãs receberão a noticia. Quero só ver como irão reagir... (as lágrimas percorre-lhe a face, e ele sussurra) Eu te amo Deolinda. Sempre te amei e para sempre vou te amar. Você foi a única mulher que soube cativar meu coração. A única razão por eu viver. Vou sentir muita sua falta, meu amor, mas vou viver para realizar o seu desejo. Eu prometo!

A música aumenta. Estamos novamente em outro planeta.

Capitão Tucker: Chegou a hora filha, está preparada?

Boriska: Tem mesmo certeza que tenho que fazer isso papai?

Capitão Tucker: Tenho sim Boriska. E um dia você também terá.

Boriska: Então tá né, sendo assim.

Capitão Tucker: (emocionado) Me dê cá um abraço, meu amor.

Os dois se abraçam emocionados. Foriska olha tudo com indiferença.

Boriska: E você Foriska, não vai se despedir de mim?

Foriska: (contra sua vontade) Vai, vai. Me abraça logo e se manda.

Boriska: (achando graça) Você não toma jeito. (e a abraça) Bem, acho que é isso. Papai... Foriska... Estou indo!

Foriska: Anda logo de uma vez...

Capitão Tucker: Que a Inteligência Suprema guie sempre seus caminhos e a proteja.

Boriska: Assim espero papai. Adeus!

Começa a tocar “Busca vida/Paralamas do Sucesso”. Boriska acena para o pai e a irmã. Uma luz toma conta dela e atravessa todos os planetas e estrelas levando-a embora. A música aumenta. Boriska vai olhando tudo por onde passa. Um arco-iris surge no meio do céu.

A câmera corta para um mendigo dormindo num banco de praça. Ele acorda e percebe uma luz vindo em sua direção. Entra em pânico e se levanta depressa. Boriska aterriza na Terra, trazida pela luz que desaparece em seguida. O mendigo a observa escondido atrás de uma árvore.

Boriska: (olhando em volta) Ai, ai, ai, ai, ai... O que será que Boriska vai encontrar nesse lugar?
A música aumenta e a câmera vai tomando distância voltando-se para o céu. Aos poucos a tela vai escurecendo...

Surge uma voz em off: Será que Boriska vai se adaptar a essa nova rotina na Terra? E Teodoro e Ana Flor? Acontecerá algo a mais entre eles? Anisia vai continuar enchendo a paciência do marido e das irmãs? E por falar em Olegário, que promessa é essa que ele fez a Deolinda??? Essas e outras respostas você começa a desvendar no próximo episódio de “Barraco, Glamour e Et's”, não perca!!! CREIA... ACREDITE... MUDE!!!