sábado, 23 de maio de 2009

1º Episódio - "Entre um Planeta e a Terra"

A cena abre com um jovem adentrando um cemitério. Está visivelmente deslocado, tenso. Caminha, olha os túmulos e chega até uma mini capela. Fica prostrado na porta, e nota no meio do lugar, um caixão. Algumas poucas pessoas estão ao lado esquerdo comentando qualquer coisa em voz baixa. Ele olha para as pessoas, olha para o caixão, e depois de respirar fundo vai até o objeto. As pessoas continuam conversando e nem notam sua presença. Ele passa a olhar a pessoa que está dentro do luxuoso caixão e num rompante só, desaba a chorar. Atrai a atenção das pessoas para si.

Teodoro: (chorando muito) Por que você fez isso? Você não podia me abandonar desse jeito. O que vai ser da minha vida agora sem você? (volta a cair no pranto)

Anisia: (intrigada) Alguém por acaso pode me explicar o que está acontecendo aqui? De onde saiu esse indivíduo?

Wilma: Você não o conhece?

Anisia: Nunca vi mais magro.

Lorena: (compadecida) Tadinho, pelo jeito ele gostava muito dela.

Anisia: (cortando) Gostava? Gostava como Lorena? Quem é esse rapaz, o que está fazendo aqui? Será que não respeitam a gente nem numa hora difícil como essa? Vou pedir a um segurança que o tire daqui.

Olegário: Deixe Anisia. (e a pega pelo braço) Aqui não é o lugar tão pouco momento para fazer um escândalo.

Anisia: Ora Olegário, escândalo por escândalo esse ai já está fazendo. (e solta-se dele)

Olegário: Não vê que ele está sofrendo. Vamos respeita-lo. Se está aqui de certo a conhecia.

Lorena: O Olegário tem razão Anisia. Deixe o garoto despedir-se de Deolinda. Ninguém por aqui está mesmo chorando por ela. Deixe que pelo menos esse desconhecido regue um pouco a alma da pobre.

Anisia: Cale essa boca, idiota. Desde quando lágrimas, ainda mais de um qualquer como esse ai, podem regar alma de alguém como Deolinda?

Lorena: Não falei por mal, só queria ajudar.

Anisia: Pois se quer ajudar, o melhor a fazer é ficar calada.

Olegário: Anisia, olhe os modos.

Anisia: (imitando) Anisia, olhe os modos! Como é que posso ter modos sabendo que o velório de minha mais velha irmã foi invadida por um estranho? Aqui ninguém sabe quem é ele nem de onde veio. E se for um marginal? Já pensaram no perigo que estamos correndo?

Wilma: (compadecida) Não creio que ele seja perigoso. Olha para ele, tão novinho... E parece mesmo estar sofrendo. Acho que vou até lá consola-lo.

Anisia: Nem pense numa coisa dessa Wilma. Se quer continuar frequentando minha casa é melhor que fique onde está.

Lorena: Mas a casa é de Deolinda...

Anisia: (mudando de tom) Sim, a casa é de minha saudosa irmã, que Deus a tenha (e faz o sinal da cruz). Mas na ausência dela, eu é quem terei que cuidar de tudo. (mostra-se extremamente sentida) E eu farei esse sacrifício em nome de todo amor que tinha por ela já que agora sou eu a mais velha da família.

Lorena: Amor? Sei... Como se fosse um grande sacrifício morar naquela mansão...

Anisia: O que disse sua estaferma?

Lorena: (partindo pra briga) Que você é mui...

Olegário: Agora chega! Será que vocês duas não respeitam nem o velório da própria irmã?

Anisia: Você deveria se preocupar era com a entrada de qualquer um aqui, isso sim. Sempre contra mim, não é Olegário. Você nunca fica a meu favor.

Olegário: Não me encha com suas lamentações. Não vê que também estou sofrendo?

Anisia: (irônica) Até demais da conta. Parece até que foi sua esposa quem morreu ao invés da cunhada...

Olegário: Vou me limitar a não dar a resposta que você merece.

Wilma: Gente, gente... Eu vou lá... Coitadinho... ? É de cortar o coração.

Olegário: Vá Wilma. Faça isso. Se o garoto está sofrendo é porque de certo sente algo por Deolinda. Não é como umas e outras que não estão nem esperando o corpo da irmã esfriar. (para Anisia e Lorena) Bando de urubus!

Lorena: Ai credo, que homem grosso.

Wilma se aproxima de Teodoro. Coloca a mão sobre o seu ombro.

Wilma: Fique tranquilo meu jovem. Ela está em paz.

Teodoro para um instante de chorar, olha para o rosto da mulher e parte para abraça-la desconsolado.

Wilma: (admirada) Calma meu bem, calma. Fique calmo. Venha, vamos tomar uma água.

Teodoro vai com ela, mas vira a cabeça para olhar a defunta no caixão. Chegam ao bebedouro.

Wilma: Tome filho, beba essa água.

Teodoro: (segurando o copo) Obrigado. (dá um gole, e suspira fundo).

Wilma: Me diga, quem é você? De onde conhece Deolinda?

Teodoro a olha e volta a chorar.

Wilma: Calma, calma. Tudo bem, tudo bem. Beba um pouco mais de água. É melhor mesmo não falar nada. Sente-se aqui. Vou voltar lá para dentro e quando você se sentir melhor volta também. Tudo bem?

Teodoro: (olhando desconfiado e limpando o nariz na manga da camisa) Hunrum. (soa o nariz)

Wilma: (mostra-se enojada) Com licença.

Wilma volta para a mini capela. Olegário vai falar com Teodoro.

Olegário: Muito bem garoto. Você trabalhou muito bem.

Teodoro: (ainda soando o nariz) Obri... (dá um forte suspiro) Obrigado.

Olegário: Veja, aqui está o combinado. (e lhe entrega um envelope) Pode conferir se quiser.

Teodoro: (se recompondo) De boa chefia, nem precisa. Confio no senhor. (e guarda o envelope no bolso da calça).

Olegário: Mais uma coisa.

Teodoro: Pode dizer doutor.

Olegário: Fique livre até amanhã. Pode ser que eu ainda necessite de seus serviços.

Teodoro: O doutor é quem manda. (suspira) Qualquer coisa é só me dá um toque que eu apareço. Só ligar no “Barraco”.

Olegário: “Barraco”. Nome diferente para se dar á um negócio de trabalho.

Teodoro: Tenho meus motivos por ter colocado esse nome, doutor.

Olegário: Bem, você é quem sabe. Ficamos então combinados?

Teodoro: Fechou! (e estende a mão para o homem).

Abertura de “Barraco, Glamour e Et's”: “Pontes Indestrutíveis” / Charle Brown Jr."

Episódio Um

Entre um planeta e a Terra

A cena abre com a música “Coração Pirata/Roupa Nova”. Teodoro está saindo do cemitério mostrando-se agora feliz. Limpa ainda as poucas lágrimas que restaram-lhe na face. Senta sobre um tumulo e pega o envelope do bolso.

Teodoro: Caraca meu, esse foi o dinheiro mais fácil que recebi. Ser ator nessas horas ajuda e muito! (sorri) O único problema foi chegar perto da defunta. Tenho pavor! (percebe que está sobre o tumulo. Olha para a foto de um homem que parece estar olhando para ele) Opa camarada, desculpa ae, foi mal... (ainda de posse do envelope nas mãos) Ganhar dinheiro chorando em velório... Taí, acho que vou seguir a profissão... (se contradiz) Não, não... Melhor não. Fiz isso porque tava precisando de grana mesmo. (fica sério) Tá difícil tocar o “Barraco”, ninguém me contrata pra mais nada... Será que eu vou pro inferno por isso? (muda o semblante) Nada, não fiz nada de errado. Na pior das hipóteses fiz uma troca justa. Dei minhas lágrimas praquela senhora e ela me deu o dinheiro que eu precisava. Pelo menos ela não vai chegar no céu ou no inferno sequinha... Ai meu Deus, quê que eu to falando? (olha para o céu) Desculpa Deus, não fiz por mal. Só fiz mesmo porque to precisando da grana. Mais uma mensalidade da facu vai vencer e eu já to devendo várias. Daqui a pouco me proíbem até de entrar lá. E ainda tem o aluguel do seu Moisés.(coloca a mão sobre a cabeça) Putz, o seu Moisés... Meu, viver como gente grande não é fácil...

Uma garota por Teodoro correndo e chorando. Ele fica curioso e a segue. Ela entra na mesma capelinha onde ele estava. Escondido se aproxima. A garota está chorando com sentimento. Nota que ninguém, a não ser o homem que o contratou, tenta consola-la.

Ana Flor: (amparada por Olegário) Tadinha da tia pai. Ela sempre tão bondosa, não merecia morrer. Nunca conheci pessoa mais generosa que ela...

Olegário: (com voz terna) Sua tia está melhor agora meu bem. Tenho certeza que agora ela poderá descansar.

Ana Flor: (desconsola e com muitas lágrimas) Por que pai? Por que as pessoas boas precisam morrer? Tem tanta gente ruim no mundo só fazendo maldade para os outros e justamente uma pessoa como tia Deolinda é quem vai embora?

Olegário: Sua tia fez uma linda passagem por aqui, filha. Ajudou muita gente, foi generosa. Fez de sua vida uma linda missão de ajudar o próximo. Vamos pegar isso como exemplo e sermos muito grato por tudo quanto ela fez por todos nós.

Ana Flor: Tanta coisa que eu ainda queria dizer para ela pai, e não disse. Não deu tempo.

Olegário: Ana Flor, fique em paz minha querida, sua tia Deolinda sabia exatamente tudo o que você sentia por ela. Seu amor por ela aliás, foi algo que sempre a deixou motivada.

Ana Flor o abraça, enquanto se deixa ser consolada nos braços do pai. Teodoro escondido, observa tudo.

A cena muda para Madri. Um evento de moda. A câmera percorre por um luxuoso salão onde muitas modelos bonitas se preparam. Toca música eletrônica. Corta para uma bolsa. Barulho de celular. Lúcia está sendo maquiada. Close no rosto dela através do espelho.

Lúcia: (abre a bolsa e pega o celular) Alô, mãe? E ai, como você está? O quê, tia Deolinda faleceu? (levanta-se, e diz para a maquiadora parar. Vai para fora) Como foi isso? Que triste essa noticia. Não, infelizmente não poderei ir agora. Estou no meio de um grande desfile. (tentando explicar) Eu sei mãe, é minha tia, mas não posso fazer nada. (mostrando-se indiferente) E também o que eu vou fazer ai agora, ela já está morta mesmo! Vem cá, quando vai ser a leitura do testamento? O que será que essa velha deixou para mim? (com desdenho) Pois é, já que a queridinha dela sempre foi aquela sonsa da Ana Flor... E ela, como é que está? (feliz) Sofrendo? (sorriso irônico) Ai que peninha que eu estou da prima... Bem feito praquela enjoada. Quero ver agora como ela vai se virar sem a proteção da “titia querida”. (chamam por ela) Já estou indo. (de volta ao celular) Mãe, preciso desligar, estão me chamando. Depois a gente se fala. Beijo. (close em seu rosto) Hum priminha linda, logo logo estou voltando para ocupar o meu lugar. (sorri maquiavelicamente e volta para a maquiagem)

A câmera se volta para o céu. Música com sons do espaço. Vai aparecendo na tela estrelas, planetas. Estamos numa outra galáxia. Numa sala, um enorme telão mostra imagens de tudo o que já vimos anteriormente. Vemos três seres. Um parece ser o líder, enquanto as outras duas ficam do lado oposto de onde ele está.

Capitão Tucker: Vocês estão vendo? É isso que essa raça tem feito com o planeta de origem. Maltratado os animais, as pessoas de idades mais avançadas. Estão acabando com a própria fonte de vida que é a água. Infelizmente, nós seres mais evoluídos acabamos por captar toda essa energia... (incisivo) Energia negativa, diga-se de passagem. (com uma das mãos sobre a cabeça) Ai, que raça mais “involuída”. Se ao menos se preocupassem em fazer o bem, em ajudar de alguma forma o Universo, nossa atmosfera não estaria tão pesada como está.

Foriska: (com muita sede nas palavras) Vamos destruí-los papai? Vou adorar ter a oportunidade de exterminar esses insetos.

Capitão Tucker: (pensativo) Isso era tudo o que eu mais temia. Ter que um dia chegar ao ponto de eliminar essa raça. Tantas oportunidades que tiveram de demostrar compaixão, misericórdia, nobreza... Mas não, sempre alguém querendo levar vantagem sobre o outro. Sempre alguém se mostrando mais importante do que o outro. Que grande tolice isso! A Suprema Inteligência, a mesma que nos criou, os criaram perfeitos. A ganância, a inveja, essa possessão sobre o outro. Isso foi o fato determinante e causador desse buraco no Sideral. E nós por vivermos aqui, estamos pagando pelos efeitos causados por eles. (nervoso) Muito que bem, já que eles são os únicos responsáveis por toda essa onda de avivamento do negativismo, já decidi: iremos deleta-los do Todo!

Foriska: (com os olhos brilhando de tanta maldade) Muito bem papai, muito bem. Vamos acabar com esses terráqueos que só ocupam espaço no universo. Vamos transforma-los em poeira cósmica.

Capitão Tucker olha para Boriska que está calada, pensativa, apenas observando as imagens no telão.

Capitão Tucker: E você Boriska, o que acha disso tudo?

Boriska: (tímida) Eu... Bem papai... É que...

Foriska: (interrompendo-a) Diga logo de uma vez o que pensa. Parece mais o que eles chamam de um “cd riscado”.

Boriska: (se aproxima da tela. Uma música instrumental suave começa a tocar) Eu penso que... Eu tenho muito medo deles.

Foriska: (debochando) Medo? Medo dos humanos? Era só o que faltava.

Capitão Tucker: Deixe sua irmã completar o que iria dizer Foriska.

Boriska: (olhando fixo para a tela) Eles são... Esquisitos... Estranhos... Parecem...

Foriska: (num rompante só) Et's?

Capitão Tucker: (autoritário) Foriska, não vou falar novamente.

Foriska: (de cabeça baixa) Me desculpe papai.

Capitão Tucker: Prossiga Boriska. Diga tudo o que pensa.

Boriska: O modo como alguns se tratam. Dizem que amam, mas enganam quem amam. São capazes de qualquer atrocidade para terem o que eles chamam de dinheiro. (aproxima-se da tela e passa a mão na imagem do que vê, observando atentamente) Parecem ter tudo para serem felizes, mas estragam essa própria felicidade. Não entendo isso. Por que eles agem dessa maneira papai?

Capitão Tucker: (com o olhar fixado sobre a tela) Eles esqueceram o motivo principal por estarem ali.

Boriska: (curiosa) E qual é esse motivo?

Capitão Tucker: O amor minha filha. O amor é a única razão pelo qual todas as coisas foram criadas. A Suprema Inteligência ao nos criar, digo nós, englobando tudo que existe no Todo, foi sagaz ao nos dar esse privilégio. Uma pena é ver uma raça que tinha tudo para se superar, viver com sentimentos tão pequenos, mesquinhos...

A música aumenta. Foriska está apenas esperando a ordem do pai para começar sua “destruição”. O som abaixa.

Boriska: Tá, tudo bem. Eu mesma disse que eles se amam e enganam a quem amam. Mas, eu nunca entendi muito bem... O que é o amor?

Foriska: Ah fala sério etezinha. Você não vai querer falar sobre toda essa baboseira logo agora, não é?

Capitão Tucker: (interrompe) Muito boa sua pergunta filha... E Foriska, o amor não é baboseira... O amor... A gente não explica. Não há como explica-lo. O amor a gente sente. (para Boriska) Já reparou como as flores ficam todas as vezes que você as rega?

Boriska: Parecem alegres. Ficam mais vivas.

Capitão Tucker: Pois ai está o segredo da vida. Saber regar com o que você tem de melhor.

Boriska: (ingênua) O amor é então uma regada nas flores?

Capitão Tucker: O amor é o que você deposita nelas quando as está regando. Ou seja, toda aquela sensação boa que você sente, acaba passando para elas. E ai elas ficam mais vivas e alegres. É a energia que você passa que faz a diferença.

Boriska: Hum...

Capitão Tucker: Se ao invés de pensarem coisas ruins, terem maus pensamentos, os humanos fizessem o contrário, não estaríamos prestes a entrar numa guerra. É preciso pensar no bem. Sempre. No próprio bem, como no bem coletivo. E não perder tempo com pensamentos que não vão leva-los a lugar nenhum, senão a própria destruição.

Boriska: E eu, também tenho que regar?

Capitão Tucker: (sorrindo) Você um dia irá descobrir a flor que deve regar. E quando a encontrar, regue com todo sentimento que acaricie tua alma.

Boriska: (parece não entender as palavras do pai e se volta para o telão) Tá bom!

Foriska: Tá papai, agora que o senhor já nos deu toda essa explicação, podemos começar a destruir esse planetinha mal projetado?

Capitão Tucker: (com toda calma) Não existe planetinha mal projetado, filha. O que existe, são maus gerenciadores.

Foriska: Isso quer dizer o quê?

Capitão Tucker: Que Boriska irá para a Terra estudar o comportamento dos seres humanos antes da “grande invasão”.

Foriska faz cara de desaprovação.

Boriska: (surpresa) Ah papai, eu? Não, não... Sem essa. Eu não quero ir não.

Capitão Tucker: (paciente) Está na hora de você ter mais contato com a vida Boriska. Já não tenho como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A Suprema Inteligência me conferiu poderes que preciso passar a vocês minhas filhas.

Boriska: (querendo se safar) Então manda a Foriska. Ela tem mais a ver com esse tipo de missão. E tá com mais vontade que eu. Me mande para outro lugar, fazer outra coisa papai... Mas ir para a Terra, nem pensar.

Capitão Tucker: Boriska, você ainda não entendeu que não somos nós que escolhemos as tarefas? São elas que nos escolhem.

Boriska: E todo aquele lance de cada um escolher seu próprio caminho, no outro dia?

Capitão Tucker: (sorrindo novamente) Você pode escolher o seu próprio caminho, sem problema algum. Mas existem tarefas que são inerentes a você seja qual caminho deseje trilhar.

Boriska: Sei não. Isso é muito confuso para minha cabeça. Você é bom demais nas palavras e eu acabo me perdendo.

Capitão Tucker: (sorrindo) Sei que vai conseguir se sair bem nessa missão, minha filha. Senão não a colocava em suas mãos.

Foriska: (enciumada) Tá dizendo que eu não tenho capacidade papai?

Capitão Tucker: Sei que você é muito capacitada filhinha. Mas essa, é de sua irmã. Você ainda é muito nova, e terá sua missão no momento certo. Não queira se precipitar.

Foriska bate o pé e sai do lugar. A música suave aumenta. Boriska está olhando o telão com os braços envoltos ao corpo. O pai se aproxima dela.

Capitão Tucker: Não tenha medo Boriska. As respostas para as suas perguntas estarão sempre dentro de você. Um dia entenderá meus motivos para pedir que você faça esse trabalho. Tudo tem um propósito filha. Nada está errado. Nada está certo. É tudo uma forma como encaramos os fatos que determinam aonde vamos chegar, e como vamos chegar. Infelizmente os humanos tem agido de forma displicente, e colocado em risco a vida do Universo. A natureza já começou a responder. Vá, estude o comportamento deles, tente descobrir o por que deles agirem dessa forma. Quero ter o relatório completo e entender os motivos antes de extermina-los.

Boriska: Você vai mesmo acabar com eles?

Capitão Tucker: (olhando o telão) Vou filha. Vou.

Muda a cena. Estamos novamente no cemitério. Ana Flor está sentada sozinha no banco do jardim olhando para o nada. Teodoro vai se aproximando lentamente. Abaixa-se para pegar uma flor que está no chão. Senta-se no banco. Ana Flor está dispersa. Teodoro faz uma tentativa de diálogo.

Teodoro: (olhando para o céu) Eu tenho certeza que as pessoas boas vão para bons lugares depois que morrem.

Começa a tocar “Não vá embora(instrumental)/Marisa Monte”. Ana Flor o olha com os olhos encharcados.

Ana Flor: (voz embargada) Será?

Teodoro: (ainda olhando o céu) Tenho certeza.

Ana Flor: (com emoção na voz) Quem a gente gosta não deveria nunca se separar da gente. É muito triste pensar que nossa vida nunca mais terá a voz, o carinho, o amor de quem se vai...

Teodoro: (virando-se para ela) Quem a gente ama de verdade, nunca morre. Fica pra sempre guardado nas nossas lembranças, no nosso coração...

Ana Flor: Mas não é a mesma coisa. Dá uma sensação de vazio. Um aperto aqui dentro. (e volta a chorar)

Teodoro: Não fica assim. Com certeza a pessoa por quem você está derrubando lágrimas não iria querer vê-la sofrendo.

Ana Flor: Perdi a pessoa que mais amei na vida.

Teodoro: Sua mãe?

Ana Flor: Não. Mas era como se fosse. Foi alguém que cuidou de mim a vida inteira como uma filha.

Teodoro: Entendo.

Ana Flor: (limpando as lágrimas) E você, o que faz aqui?

Teodoro: (disfarçando) Uma amiga que não via a muito tempo faleceu. Mas tenho certeza que ela está melhor agora.

Ana Flor: Por que diz isso? Ela sofreu muito antes de morrer?

Teodoro: Não. (lembrando-se da cena) Mas o jeito como a família se portou perante o velório foi suficiente pra perceber que não estavam nem ai para ela.

Ana Flor: (lembrando-se da família) Entendo.

Teodoro pega a flor que está sobre sua perna e entrega a garota.

Teodoro: Tome. Essa flor representa meus sentimentos para você.

Ana Flor o olha nos olhos. A música passa a ser cantada. Pessoas estranhas passam entre eles, e ela o olha como se algo penetrasse em seu olhar.

Ana Flor: Obrigada.

Teodoro aproxima-se e coloca seu braço envolto ao dela. Ela consente e ainda deita a cabeça sobre o ombro do jovem. A música aumenta e a câmera vai se distanciando pelo alto. A cena muda para o velório. O salão está vazio. Apenas o caixão e Olegário ao lado dele.

Olegário: (emocionado) Descanse em paz, meu amor. Eu prometo cumprir a promessa que lhe fiz. Eu juro. De onde você estiver, ficará feliz quando seu desejo em vida, for realizado. E eu já tenho novidades. Muito em breve suas irmãs receberão a noticia. Quero só ver como irão reagir... (as lágrimas percorre-lhe a face, e ele sussurra) Eu te amo Deolinda. Sempre te amei e para sempre vou te amar. Você foi a única mulher que soube cativar meu coração. A única razão por eu viver. Vou sentir muita sua falta, meu amor, mas vou viver para realizar o seu desejo. Eu prometo!

A música aumenta. Estamos novamente em outro planeta.

Capitão Tucker: Chegou a hora filha, está preparada?

Boriska: Tem mesmo certeza que tenho que fazer isso papai?

Capitão Tucker: Tenho sim Boriska. E um dia você também terá.

Boriska: Então tá né, sendo assim.

Capitão Tucker: (emocionado) Me dê cá um abraço, meu amor.

Os dois se abraçam emocionados. Foriska olha tudo com indiferença.

Boriska: E você Foriska, não vai se despedir de mim?

Foriska: (contra sua vontade) Vai, vai. Me abraça logo e se manda.

Boriska: (achando graça) Você não toma jeito. (e a abraça) Bem, acho que é isso. Papai... Foriska... Estou indo!

Foriska: Anda logo de uma vez...

Capitão Tucker: Que a Inteligência Suprema guie sempre seus caminhos e a proteja.

Boriska: Assim espero papai. Adeus!

Começa a tocar “Busca vida/Paralamas do Sucesso”. Boriska acena para o pai e a irmã. Uma luz toma conta dela e atravessa todos os planetas e estrelas levando-a embora. A música aumenta. Boriska vai olhando tudo por onde passa. Um arco-iris surge no meio do céu.

A câmera corta para um mendigo dormindo num banco de praça. Ele acorda e percebe uma luz vindo em sua direção. Entra em pânico e se levanta depressa. Boriska aterriza na Terra, trazida pela luz que desaparece em seguida. O mendigo a observa escondido atrás de uma árvore.

Boriska: (olhando em volta) Ai, ai, ai, ai, ai... O que será que Boriska vai encontrar nesse lugar?
A música aumenta e a câmera vai tomando distância voltando-se para o céu. Aos poucos a tela vai escurecendo...

Surge uma voz em off: Será que Boriska vai se adaptar a essa nova rotina na Terra? E Teodoro e Ana Flor? Acontecerá algo a mais entre eles? Anisia vai continuar enchendo a paciência do marido e das irmãs? E por falar em Olegário, que promessa é essa que ele fez a Deolinda??? Essas e outras respostas você começa a desvendar no próximo episódio de “Barraco, Glamour e Et's”, não perca!!! CREIA... ACREDITE... MUDE!!!

5 comentários:

  1. História doce e suave. Estou encantada.Bjos.

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  2. O que mais falta no mundo é falar de amor... O amor está sendo banalizado, é preciso dar mais atenção...
    "Capitão Tucker: (sorrindo) Você um dia irá descobrir a flor que deve regar. E quando a encontrar, regue com todo sentimento que acaricie tua alma."
    E quero a minha flor, eu quero a minha flor...

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  3. Muito linda a história. Vou acompanhar com certeza. Parabéns!

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  4. Guilherme C. Abranches14 de outubro de 2009 às 23:23

    Muito interessante a narrativa. Por ora, me chamou a atenção. Irei acompanhar os próximos episodios. Torço que mantenha essa linha de surpreender.
    Guilherme C. Abranches

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  5. Gostei do primeiro episódio...aborda questões polêmicas. Na minha opinião ficaria mais rico com desenhos tipo gibi das situações e dos personagens. Bem legal, parabéns Samukão!

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