sábado, 23 de maio de 2009

2º Episódio: "Ajuda-te que o céu te ajuda"


A cena abre com o último acontecimento do episódio anterior.

Começa a tocar “Busca vida/Paralamas do Sucesso”. Boriska acena para o pai e a irmã. Uma luz toma conta dela e atravessa todos os planetas e estrelas levando-a embora. A música aumenta. Boriska vai olhando tudo por onde passa. Um arco-iris surge no meio do céu.





A câmera corta para um mendigo dormindo num banco de praça. Ele acorda e percebe uma luz vindo em sua direção. Entra em pânico e se levanta depressa. Boriska aterrissa na Terra, trazida pela luz que desaparece em seguida. O mendigo a observa escondido atrás de uma árvore.

Boriska: (olhando em volta) Ai, ai, ai, ai, ai... O que será que Boriska vai encontrar nesse lugar?

A música aumenta e a câmera vai tomando distância voltando-se para o céu.

Abertura de “Barraco, Glamour e Et's”, “Pontes Indestrutíveis/ Charle Brown Jr.”






Segundo Episódio



Ajuda-te que o céu te ajuda



CENA 01 – EXT/ TARDE – LAJE DE GUGAGuga está em cima da laje olhando para o céu através de seu telescópio e vê a luz passar.

Guga: (gritando, extasiado) Eu vi! Eu vi! Meu Deus, eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles iriam aparecer.

Uma mulher de bobes na cabeça aparece.

Tereza: Que gritaria toda é essa garoto? Quer me matar do coração?

Guga continua entretido olhando pela lente do telescópio.

Tereza: Quê que é, vai dar uma de surdo agora? Tava gritando ai que nem um desesperado e agora nem responde. Guga, Guga... Olha que eu quebro essa geringonça em mil pedaços.

Guga: (voltando a si) Desculpa mãe. É que eu acabei de presenciar um fenômeno.

Tereza: O que não é difícil aqui no bairro em que a gente vive. Com todos esses vizinhos, não é de se estranhar presenciar alguns fenômenos.

Guga: (explicando ainda agitado) Não mãe, eu tô falando de lá. (e aponta para o céu) Acabei de ver um facho de luz muito forte descendo do céu.

Tereza: (mostrando-se preocupada) Filho, você está bem?

Guga: (tranquilo) Tô mãe. Sério. Acabei de ver uma luz enorme vinda do céu. Tenho certeza que tem algo a ver com os extra terrestres. Venho notando já à algum tempo que eles vêem tentando fazer contato comigo.

Tereza: (com as mãos na cabeça) Ai meu Deus, você de novo com esse assunto?

Guga: Mas eu juro mãe. Assim que essa luz desceu na Terra, surgiu esse arco iris. (e aponta para o efeito no céu)

Tereza: (olha e constata o arco iris) É. De fato esse arco iris está bem forte. Mas isso não diz nada menino. Olha Guga, eu já falei para você deixar de mexer com essas coisas, não falei? Pára de mexer com o que você não conhece.

Guga: Mas eu conheço mãe. A senhora sabe que os assuntos de outros planetas sempre mexeram comigo.

Tereza: E comigo. Por conta disso, vira e mexe você acaba arrumando encrenca.

Guga: Eu não mãe. São os outros que implicam a toa comigo.

Nesse instante passa um bando de garotos em frente à sua casa. Um deles inicia uma conversa.

Rosendo: E ai camarada, já conseguiu encontrar vestígios de vida em outros planetas? (e cai na gargalhada)

Os garotos que estão juntos começam a rir também.

Guga: Já, já sim. Só que eu nem precisei ir procurar tão longe. Descobri por aqui mesmo. E posso garantir que são seres nem um pouco inteligentes.

Rosendo e os demais cessam as gargalhadas.

Rosendo: Cuidado hein, fica mexendo com essas coisas, pode acabar sendo abduzido. (e volta à gargalhar)

Guga: Ia achar muito bom. Só assim pedia à eles para estudarem pessoas sem cérebros como vocês.

Rosendo: (partindo para cima) Que 'cê tá falando ai...

Tereza: (se mostra para eles) Que é que vocês tão falando? Vai, se manda. Vaza daqui. Some da minha frente antes que eu cometa um ato de abdução coletiva.

Rosendo e seu bando olham a mulher e se mandam, correndo.

Tereza: (para Guga) Tá vendo filho. É por isso que eu não gosto que você se exponha dessa maneira aqui fora. Deixa esse negócio de extra terrestres pra lá. Você já foi longe demais com essa história.

Guga: Tô fazendo nada de errado mãe. O Rosendo que é atrasado demais. Mas não se preocupe não. Um dia todo mundo ainda vai me dar razão. Eu não ligo a minima pra o que eles dizem ao meu respeito. Eu sei que os et's existem e estão por ai, por toda a parte. E assim como tem os bons, também tem os maus. Por isso que eu fico preocupado. Vai que eles resolvem invadir a Terra.

Tereza: (desacreditando) E se eles invadirem você vai fazer o que?

Guga: O que vou fazer ainda não sei mãe. Mas que é melhor não ser pego de surpresa, ah, disso não tenho duvidas.

A câmera dá um close no rosto da mulher e volta para ele.



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CENA 02 – EXT/ TARDE/ PRAÇABoriska está perdida com o olhar percorrendo toda a extensão que pode observar.

Boriska: Lugar bonito esse. Só não entendo como podem acabar com ele como estão fazendo. Estão maltratando os animais, os idosos. A natureza já está respondendo. E ainda acham que isso é castigo da Suprema Inteligência. (olha pra o céu) Mas eu é quem pergunto. Será que eu vou conseguir entender alguma coisa desse povo? Se ao menos alguém falasse comigo... (várias pessoas passam por ela indiferentes)

CENA 03 – INT/ TARDE/ CASA DE TEODOROTeodoro entra em casa todo feliz. Uma mulher está sentada frente a tevê, costurando alguma coisa.

Teodoro: Bença mãe.

A mulher continua calada.

Teodoro: (insistente) Bença mãe.

Eloísa: Acha que sou surda? Já escutei. Agora sai da minha frente que estou vendo o programa do pastor.

Teodoro vai caminhando para seu quarto, quando a mulher começa a falar.

Eloísa: (fria) Seu Moisés acabou de sair daqui. Tava furioso. Falou um monte. Disse que você tá enrolando ele, e que se não pagar o aluguel vai te colocar no olho da rua.

Teodoro: E a senhora disse o que pra ele?

Eloísa: Ia dizer o que? Que não sabia onde você tava. Você some e não avisa pra onde vai. Você deve achar que aqui é pensão, não é?

Teodoro: Não mãe. Me desculpa. É que pintou um trabalho de última hora e não consegui avisa-la.

Eloísa: Teve grana pelo menos? Não, porque essa sua profissão, pelo amor de Deus hein, só dá prejuízo. Nunca te vejo ganhar nada.

Teodoro: Hoje o trabalho foi bom mãe. Consegui ganhar um dinheiro sim. Já vai dar pra pagar uma mensalidade da faculdade.

Eloísa: (indignada) A gente com falta de um monte de coisa aqui em casa e você preocupado com mensalidade de faculdade? Se deu conta do absurdo que acabou de me falar?

Teodoro: Mãe, eu já tô devendo mais de três meses na faculdade. Daqui a pouco vão me proibir até de assistir aula.

Eloísa: Também pudera. Onde já se viu fazer curso de artes? Isso não é coisa pra gente que nem “nóis”. Isso é pra gente bacana, com bufunfa. Você deveria era ter aceitado o trabalho que o seu Jorge te ofereceu no outro dia e ir trabalhar na empresa dele.

Teodoro: Mãe, eu não quero passar a minha vida sendo empregado dos outros. Quero ter meu próprio comércio.

Eloísa: Se continuar do jeito que tá, você vai acabar é na sarjeta. E passando fome.

Teodoro a olha com tristeza nos olhos.

Teodoro: É isso o que a senhora tem pra me dizer mãe? Ao invés de me incentivar diz é que vou acabar na sarjeta, e passando fome?

Eloísa: Você queria que eu dissesse o quê? Que te aplaudisse, pegasse no colo e dissesse, não meu filho, você tá certo. Acorda pra vida Teodoro. Aqui onde a gente mora ninguém tem tempo pra perder com besteira de sonhos não. Aqui a gente vive a realidade. Dura e crua como ela é.

Teodoro: Meus sonhos não são besteiras. São eles que me fazem acordar e sair pra rua diariamente pra lutar.

Eloísa: (sarcástica) Pois então tá na hora de você acordar desses sonhos rapazinho. Sonhos não enchem barriga de ninguém. Nem pagam contas no final do mês. E já que disse ter ganho dinheiro, passe algum pra cá. Tô precisando fazer umas compras aqui pra casa. O gás acabou e até agora ainda não comprei outro.

Teodoro: Mas mãe, esse dinheiro é pra pagar a faculdade.

Eloísa: (nervosa) Então vai. Vai pra sua faculdade de merda. Vai lá. Quero ver se lá eles vão te alimentar. Vai, porque nem água você vai ter pra tomar banho. Água custa dinheiro. E eu não paguei esse mês.

Teodoro: E o dinheiro que eu te dei pra isso?

Eloísa: Dei pro pastor. Ele começou uma campanha nova na igreja e disse que Deus ia dar em dobro pra quem colaborasse.

Teodoro olha a mulher e respira fundo para não soltar tudo o que está preso em sua garganta.

Teodoro: Está certo. (pega parte do dinheiro do envelope) Aqui está uma parte do que ganhei. Faça o que quiser com ela.

Eloísa: (desdenhando) Só essa mixaria?

Teodoro: É tudo o que eu posso dar.

Eloísa: Fazer o que. Me dê cá. E veja se arruma mais algum.

Teodoro pega sua mochila e caminha em direção a porta.

Eloísa: Vai sair?

Teodoro: Vou pra faculdade.

Eloísa: Aproveite e jante por lá mesmo. Não vou ter tempo de cozinhar mais nada hoje.

Teodoro respira fundo e sai. Ao passar pela porta, ele a fecha e encosta sua cabeça nela. Começa a tocar “Coração Pirata/ Instrumental/ Roupa Nova”.

Teodoro: (em pensamento) “Por que ela age dessa maneira comigo? Meu Deus, o que eu fiz pra ela? Parece que ela não gosta de mim. Eu não vejo a hora de poder ir morar sozinho, ficar longe de tudo isso. Mas quanto mais eu me esforço, mais as coisas dão erradas”.

Um homem está passando e nota Teodoro por ali. Já chega intimando-o.

Moisés: Muito bem rapazinho, até que enfim deu o ar de sua graça.

Teodoro: (todo sem graça) Seu Moisés... Eu ia mesmo procura-lo...

Moisés: Quero saber se já tem o dinheiro do aluguel?

Teodoro: Era sobre isso que eu queria falar com o senhor. Será que...

Moisés: Nem me venha com mais desculpas esfarrapadas mocinho. Ou me paga pelo menos uma parte do que me deve, ou vai para o olho da rua com toda aquela bugiganga que você chama de empresa.

Teodoro: Só mais uns dias seu Moisés. Vou fazer um trabalho que vai me dar uma grana razoável, e ai eu quito minha divida com o senhor.

Moisés: Nem pensar rapaz. Ou me paga o que me deve, pelo menos uma parte até amanhã, ou vai para o olho da rua.

Teodoro: Mas seu Moisés, como é que eu vou arranjar todo esse dinheiro até amanhã?

Moisés: Como vai conseguir, isso não me interessa, é problema seu. Se não me pagar até amanhã, será despejado. Está avisado. (e vai embora)

Teodoro: (a câmera dá um close em seu rosto) Poxa, e agora? Onde é que eu vou arranjar todo esse dinheiro e até amanhã? E ainda tenho que acertar o que devo na faculdade. Ai, tá difícil... O que eu faço?

CENA 04 – EXT/ TARDE – PRAÇA DO INTERIORJulieta está sentada num banco de praça, segurando uma flor. Vê um carro se aproximar e levanta-se. Um jovem desce do carro e caminha até ela.







Julieta: (carinhosa) Meu amor, que saudades. Não via a hora de te ver novamente.

Jhuan: (áspero, se esquiva da garota) Julieta, precisamos conversar.

Julieta: (empolgada) E eu não sei. Não nos vemos à mais de uma semana. Estava morrendo de saudades de você meu lindo.

Jhuan: É sobre isso que quero falar com você Julieta.

Julieta: Aconteceu alguma coisa? Você tá estranho...

Jhuan: Eu não sei como te falar isso, então vou tentar ser o mais direto possível.

Julieta: Você tá me assustando. O que foi?

Jhuan: (ríspido) Eu quero terminar nosso namoro.

Julieta: (sem entender) Como? Não entendi?

Jhuan: Quero terminar nosso namoro Julieta, é isso.

Julieta: Tá, mas assim? Por qual motivo?

Jhuan: A gente... Você... Eu... Não temos nada a ver um com o outro...

Julieta: Como assim nada a ver um com o outro? Até duas semanas atrás você jurava me amar...

Jhuan: As coisas mudam Julieta.

Julieta: Espera ai, concordo que as coisas mudam, mas não assim, dessa maneira.

Jhuan: Vai ser melhor para nós dois. Procure entender.

Julieta: Entender? De que jeito? Num dia você só falta me colocar no céu, e de repente, de uma hora pra outra você vem e despeja sobre mim que não temos nada a ver um com o outro. E ainda pede pra eu entender? Você acha isso justo?

Jhuan: Estou indo embora daqui, arrumei um emprego em São Paulo, e vou recomeçar minha vida por lá.

Julieta: Que ótimo. Acho bacana você querer melhorar. Eu te apoio. (brincando) Vai amor, já entendi, que susto. Você tá confuso, é normal. Mas eu vou te ajudar a superar essa crise...

Jhuan: (cortando friamente) Julieta, você não entendeu. Eu quero terminar nosso namoro. Eu não te amo mais.

A câmera pega um close no rosto de Julieta. Os olhos estão marejados. Começa à tocar “Olha pra mim/Instrumental/Mara Maravilha”. A garota demonstra forte emoção. Jhuan continua frio.

Jhuan: Bem, era isso que eu tinha para falar. Agora preciso ir.

Julieta: Mas assim, sem uma explicação? Espera ai Jhuan, eu dediquei meus últimos dois anos pra você e só isso que você tem pra me dizer?

Jhuan: Tá, tudo bem. Vou dizer. (vomitando as palavras) Você quer mesmo saber, eu te falo. Várias vezes eu pedi pra você mudar, pra você melhorar. Deixar de ser essa caipira.

Enquanto ele vai falando a câmera vai pegando o rosto de Julieta, que mostra desapontamento.

Jhuan: Mas não, você insistiu em continuar com essas roupinhas cafonas, esse jeito jeca de se portar. Várias vezes pedi pra você ir à um cabeleireiro, uma manicura. E você? O que fazia? Não ligava. Cansei. Cheguei no meu limite. (mudando o tom) Você se deu conta de como sou cheio de estilo? Bem aparentado? As garotas, as melhores, ficam loucas comigo, e eu com você, uma caipirinha que não enxerga nada além do que esse mundinho cor-de-rosa. Sem eira nem beira. Sem visão de futuro. Bem, é isso, você pediu pra falar, eu falei. Tá falado. Pronto. (se vira e vai embora)

Julieta fica visivelmente abalada. As lágrimas agora percorre-lhe a face. A música aumenta e ela vê o namorado entrar no carro, dar a partida e ir embora. Ela ainda corre atrás do carro.

Julieta: (gritando) Jhuan, espera. Jhuan! (cai no chão, chorando) Não vai embora. Não me deixe aqui sozinha.

A música aumenta. Ela se levanta e volta para a praça. Abaixa a música.

Julieta: (chorando) Eu só queria te contar a respeito da proposta que recebi de ir para São Paulo... (e paga um envelope que estava escondendo embaixo da camiseta e olha para ele chorando) Só isso...

A Câmera vai se distanciando na medida em que a música aumenta.



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CENA 05/ EXT/ NOITEBairro de Buraco dos Sem DentesUm táxi para na vila e de dentro dele desce uma garota de mini saia e decote chamativo. Começa a tocar “Difícil de domar/Garotas Suecas”. Ela paga ao motorista e agradece. Duas moradoras estão conversando e ao vê-la, passam a falar dela.

Judite: Olha que absurdo mulher. Essa garota não tem mais jeito, se perdeu mesmo.

Safira: Tenho pena do pobre do pai dela. Deve ser muito triste ter uma filha como essa dai.

A jovem passa por elas e ouve o comentário.

Judite: (falando alto para que a garota ouça) É comadre, como estou lhe dizendo, nosso bairro já não é mais como antigamente. Essas menininhas de hoje em dia não se dão mais ao respeito.

A jovem pára e se vira para elas.

Lurdinha: (toda posuda) Pois é, as menininhas não se dão mais o respeito como antigamente. Mesmo porque, pelo que percebo olhando as senhoras, antigamente as pessoas não tinham o hábito de se respeitarem. Se tivessem, vocês não estariam ai, sem ter o que fazer, cuidando da vida alheia. Olha o feijão dona Maria. (e vai embora).

Judite: (abismada) Mas que falta de respeito. Você vê comadre, ela não respeita mais ninguém.
Safira: Onde já se viu falar com duas senhoras esse absurdo.

Judite: (disfarçadamente não concordando com a última afirmação da amiga) Se bem que não estamos tão senhoras assim...

Safira: Você tem razão. Imagine nós duas numa mini saia daquelas...

Judite: Iriamos arrasar certamente. Vamos entrar comadre, preciso contar as últimas quentinhas. Você soube que a nora do seu Edgar ficou grávida do cunhado?

Safira: Jura, não acredito.

Judite: Vamos entrar que lhe conto tudo.

A música aumenta e a câmera pega Lurdinha caminhando em direção a sua casa. Por onde passa os garotos mexem com ela.

Juquinha: Meu Deus, vai ser gostosa assim lá na minha casa...

Lurdinha: Qualquer hora dessas eu apareço por lá vice Juquinha?

Luciano: Morena, pra você eu dava casa, comida e roupa lavada viu?

Lurdinha: Se avexe não meu rei, se comparecer no momento oportuno, tá ótimo.

Ela entra em sua casa. Um senhor está olhando pela janela.

Lurdinha: Painho, cheguei. Sua benção.

Honorato: Deus lhe abençoe viu minha filha. Maria de Lurdes por onde andou até uma hora dessa?

Lurdinha: Oxê, que preocupação toda é essa agora? Resolveu ser o painho convencional foi?

Honorato: É que fico preocupado minha pretinha. Sabe que sou um velho, você some e não avisa onde tá, nem com quem tá. Ai fico com a minha cabeça nos cascos, num sabe?

Lurdinha: (carinhosa se aproximando dele) Pois tire essas caraminholas de sua cabeça meu pai. Tava curtindo a vida, só isso. O senhor tá bem?

Honorato: Tô, na medida do possível...

Lurdinha: É isso que importa painho. Olhe, vou tomar um banho porque to que não me aguento com essa poeira no corpo. Depois vou querer comer um pouco de sua muqueca com camarão, porque to varada de fome.

Honorato: E como tu soube que fiz muqueca de camarão?

Lurdinha: Conheço esse cheiro de azeite de longe. (e vai para seu quarto)

Honorato: (falando para si mesmo) Ah, essa minha filha.

CENA 06/ EXT/ NOITE – Oficina de ManuManu está terminando de fechar o capô de um carro. Teodoro chega.

Teodoro: Fala Manu, tudo tranquilo?

Manu: Comigo sim. Mas ae irmão, que tá pegando? Que cara é essa?

Teodoro: Nada não, coisa boba.

Manu: Hum, já sei. Tua velha de novo, acertei?

Teodoro: É, minha mãe tem haver também, mas dessa vez é por outro motivo.

Manu: Nem precisa dizer. Tá precisando de quanto dessa vez?

Teodoro: O aluguel cara, seu Moisés falou um monte pra mim. Disse que se eu não pagar parte do que devo, amanhã mesmo ele me despeja.

Manu: Já entendi. Você pediu um tempo a mais pra ele?

Teodoro: Pedi, mas ele nem quis saber de ouvir.

Manu: E agora, você vai fazer o quê?

Teodoro: Ainda não sei. Talvez eu faça um trabalho amanhã que me renda um bom dinheiro. Pelo menos tô contando com isso. Se não rolar, tô lascado.

Manu: E quanto é que você precisa pra quitar essa divida com seu Moisés?

Teodoro: Uns quatrocentos e cinquenta.

Manu: (abre uma gaveta e pega um dinheiro) Toma ai mano, paga teu aluguel.

Começa a tocar “Coração Pirata/Instrumental/Roupa Nova”.

Teodoro: Não, não Manu. De jeito maneira posso aceitar. Já tô te devendo muito. Pode deixar que eu me viro.

Manu: Pega de boa moleque. Fica sussa. Tu é meu camarada e jamais ia te deixar numa situação embaraçada. Paga teu aluguel, ajeita o “Barraco” e atraia bons trabalhos.

Teodoro: Ai meu amigo, não sei nem o que te dizer. (e coloca de novo sobre a mesa)

Manu: Pois então não diga. Pegue esse dinheiro e pague o que tu deve.

Teodoro: Tenho batalhado tanto Manu, mas tá difícil viu. Ainda não dei uma dentro, acredita? Abri o “Barraco” achando que ia lucrar com isso, mas até agora só tenho tomado prejuízo.

Manu: Tu tem que ter fé, velho. Não desanimar, tá ligado? O caminho pra se atingir o sucesso não é nem um pouco fácil.

Teodoro: E quem disse que a vida é fácil pra alguém? Nessa vida só vencem os determinados.

Manu: Exatamente mano, gostei de ver. A vida só sorri pra quem não tem medo dela. Pra quem enfrenta com coragem os obstáculos que ela impõe dia após dia. Tua agência de publicidade, o “Barraco”, por exemplo, ainda vai bombar, 'cê vai ver.

Teodoro: (desanimado) Só não sei como.

Manu: Ajuda-te que o céu te ajuda!

Teodoro: Mas como?

Manu: Não desistindo. Acreditando. Tá certo, as coisas não tão indo muito bem pro seu lado. Mais uma razão pra tu persistir. Deus tem seus próprios meios de intervir em nossas vidas Teodoro. Faça sua parte e deixe o resto nas mãos de Deus. Ele saberá como guia-lo da forma mais acertada. Confia no Senhor, meu amigo. Ele não há de deixá-lo na mão. Mas enquanto isso não acontece, fica com essa grana. (e coloca o dinheiro nas mãos do amigo) Assim que você tiver, me paga numa boa.

Teodoro: (emocionado) Poxa Manu, to sem palavras novamente.

Manu: Precisa dizer nada não mano. Sei da tua luta cara. Te admiro por isso. E toda essa determinação vai te levar longe. E ai quando tu for um ator famoso, me coloca naquelas baladinhas vip's. Fechô?

Teodoro: (muito emocionado) 'Brigado mesmo cara. Você tem sido um grande irmão.

Manu: Vai lá moleque. Vai pagar teu aluguel. E lembre-se; ajuda-te que o céu te ajuda!

Teodoro: (falando para si mesmo) Ajuda-te que o céu te ajuda. Tai, você tem mesmo razão. (e sai. A música aumenta)



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CENA 07/ EXT/NOITE – PRAÇABoriska está sentada na calçada, com as mãos apoiando o queixo. Teodoro passa e notando o estado dela a cumprimenta.

Teodoro: Oi, tá tudo bem ai?

Boriska: (sem dar muita atenção) Tá.

Teodoro: É que você tá com uma cara.

Boriska: Se for por isso, a sua também não está lá uma das melhores.

Teodoro: Talvez porque eu não esteja num dos meus melhores dias.

Boriska: Acho que eu também não.

Teodoro senta-se ao lado dela.

Teodoro: Ás vezes me sinto em et, sabia?

Boriska: Pois eu não me sinto. Eu sou uma et.

Teodoro: (tentando consola-la) Também não é pra tanto. Você é uma garota muito simpática.

Boriska: Obrigada. (e olha pela primeira vez. Começa a tocar “Buscar Vida/Instrumental/Paralamas do Sucesso”) Sabe, você foi a única pessoa que falou comigo desde a hora que cheguei. Todos que passaram por mim, me olhavam com indiferença. Quer dizer, isso quando olhavam.

Teodoro: Entendo. Infelizmente algumas pessoas agem dessa forma por aqui.

Boriska: No meu planeta todos se cumprimentam. (a música abaixa)

Teodoro: Na sua cidade, você quer dizer.

Boriska: É, e no meu planeta também.

Teodoro: Ah! (e faz cara de “que pessoa mais estranha”)

Boriska: Tô com uma fome.

Teodoro percebe que ela está sem dinheiro. Coloca a mão no bolso e encontra algumas moedas a mais.

Teodoro: Bom, se você quiser, posso te pagar um dog.

Boriska: O que é isso?

Teodoro: Você não sabe o que é um cachorro quente?

Boriska: Não. O que é?

Teodoro: Vem comigo. (e caminham atá a carrocinha de cachorro quente do outro lado da praça)

Teodoro: (para o dogueiro) Dois por favor.

Dogueiro: Completo os dois?

Teodoro: Sim, e no capricho, por favor.

O dogueiro entrega o primeiro, que Teodoro passa para Boriska. Em seguida pega o seu. Boriska come rapidamente o seu.

Boriska: Bom isso!

Teodoro: (impressionado com a rapidez da jovem e sensibilizado por sua fome) Tome, fique com esse também.

Boriska: Obrigado.

O mendigo que viu Boriska aterrissar na Terra aparece.

Praxedes: (para Boriska) Sai de perto dele Satanás. Volte para as profundezas do inferno.

Teodoro: O que é isso Praxedes? Ficou maluco, falar dessa forma com a moça.

Praxedes: Ela é o Satanás. Eu vi quando Deus expulsou ela do céu hoje pela tardinha. Foi expulsa de lá e quer instalar seu reino de perdição por aqui.

Teodoro: Nada disso Praxedes, a moça só...

Boriska docemente se aproxima de Praxedes. A música instrumental aumenta. Olhando em seus olhos com ternura, lhe acaricia a face.

Boriska: Que espécie mais interessante. Vejo tanta bondade em seu coração. Mas vejo também muita tristeza.

Praxedes fica desconcertado.

Praxedes: (querendo disfarçar a emoção) Ei, sai pra lá Satanás.

Teodoro: Praxedes, não seja mal educado. Ela está sendo gentil com você.

Praxedes volta a olhar Boriska desconfiado. Como se a estivesse avaliando.

Praxedes: Então dá uma moeda pra eu tomar uma cachaça.

Boriska: Boa espécie, não tenho nenhuma. E cachaça parece ser ruim.

Teodoro interfere e lhe dá algumas moedas.

Teodoro: Tome Praxedes, é tudo que tenho.

Praxedes: Valeu garoto. Se cuida hein Satanás. Tô de olho em você. (e vai embora).

Teodoro: Bom, agora eu preciso ir. Já tô atrasado.

Boriska: Tudo bem. Até logo. E obrigado pelo dog.

Teodoro está indo embora quando olha para trás e nota que Boriska voltou a sentar no mesmo lugar.

Teodoro: Desculpa perguntar, mas você não vai pra sua casa?

Boriska: Minha casa fica muito longe daqui.

Teodoro: Hum, já entendi. Não tem onde ficar, não é mesmo?

Boriska balança a cabeça em negativo.

Teodoro: Tá, tudo bem. (falando para sim mesmo).Tenho sido muito ajudado. Seguinte, eu tenho um lugar, é pequeno, simples... Se você quiser, pode passar a noite lá.

Boriska: Tá me convidando para dormir na sua casa?

Teodoro: É, não é bem uma casa... Mas numa situação como essa, penso que pode ser uma boa. Tá a fim?

Boriska: Mas é claro! (e o abraça)

Teodoro sente uma cocega boa na alma e sorri.

CENA 08/ INT/ BARRACO PRODUTORAOs dois chegam e entram na produtora. Lugar simples com pouco móveis. Ou quase nenhum.

Teodoro: Bem, seja bem vinda à minha humilde produtora.

Boriska: Produ, o que?

Teodoro: Produtora. Vai dizer que também nunca ouviu falar?

Boriska: Não, nunca. Mas aqui é bem acolhedor. Tem uma energia boa.

Teodoro: Só ainda não descobriram isso...

Boriska: Quem?

Teodoro: Não, tô pensando alto mesmo. Não é ninguém em específico. Ah propósito, nem nos apresentamos.

Boriska: Nossa, é verdade. Que distração.

Teodoro: Me chamo Teodoro, prazer (e estende a mão)

Boriska: Teodoro? Que nome bonito. Eu me chamo Boriska.

Teodoro: Boriska? Que diferente.

Boriska: Lá em Ashu-Khar, os nomes são todos desse jeito.

Teodoro: Ashu-Khar?

Boriska: Sim, o planeta de onde eu vim.

Teodoro: Perae, que agora você tá me confundido. O que você quer dizer quando diz seu planeta? Por acaso você é de outro lugar que não seja a Terra?

Boriska: Sim. Sou de Ashu-Khar. Um planeta bem distante da Terra.

Teodoro: Ah, fala sério. Você que não quer que eu acredite que você veio de outro planeta, quer?

Boriska: Não precisa acreditar se não quiser. Mas é a verdade.

Teodoro: E como você quer que eu acredite numa coisa dessa?

Boriska vai até a mesa. Se concentra e faz os objetos levitarem.

Teodoro: Meu Deus! Você é uma extra terrestre?

Boriska: Sim, sou.

Teodoro: (assustado) Sai pra lá, se afasta de mim. Ai meu Deus, por que eu não dei ouvidos pro Praxedes, ele tinha razão.

Boriska: Teodoro, não precisa ter medo de Boriska. Boriska ser do bem. Não fazer mal pra ninguém. Se quiser Boriska pode ir embora.

Teodoro lembra-se do que Manu lhe disse:
Ajuda-te que o céu te ajuda

Teodoro: (voltando a si) Não, não. Desculpe-me pelo mau jeito. É que não estou acostumado à encontrar uma extra terrestre todos os dias não é?

Boriska: Entendo. Eu também não estou acostumada à encontrar seres humanos todos os dias.
Os dois se olham por alguns instantes e a seguir caem na gargalhada.

Teodoro: Mas me diga, o que veio fazer aqui na Terra?

Boriska: Hum, isso é uma longa história. Quer mesmo saber?

Teodoro: Opa, quero sim. E quer saber, não vou hoje pra facu. O acontecimento merece minha atenção.

A música aumenta e os dois entram numa conversa profunda.

Teodoro: Quer dizer que você veio para estudar a minha raça?

Boriska: Isso mesmo. Só que como lhe falei, tenho muito medo de humanos.

Teodoro: Que história mais louca! Uma extra terrestre que tem medo de humanos. Geralmente acontece o contrário...

Boriska: Mas é a pura verdade.

Teodoro: Mas se você veio para estudar os humanos, então você é uma espiã, certo?

Boriska: Acho que sim.

Teodoro: E vai levar as informações para o seu povo para destruírem o meu?

Boriska: A principio era essa a idéia.

Teodoro: O que mudou?

Boriska: Ter te conhecido. Se existe alguém de bom coração assim como você, com certeza deve haver outros semelhantes também. Seria injusto deixar que seres assim fossem banidos do Universo.

Teodoro: E o que você vai fazer?

Boriska: Ainda não sei. Mas vou pensar em algo que faça meu pai mudar de idéia.
Teodoro: Posso confiar em você?

Boriska: Deve. Vai ser uma honra ter a confiança de um ser nobre como você.

Teodoro: (ainda tentando entender) Mas se você diz que o motivo pra que seu pai tenha lhe dado essa missão foi o fato do meu povo estar emitindo tanta energia negativa, isso é muito grave. A gente precisa fazer alguma coisa pra parar isso.

Boriska: Pode contar comigo. A partir de agora, essa vai ser minha missão. Quer dizer, nossa. Ajudar às pessoas à terem mais alegria e amor no coração.

Teodoro: Isso ai, vamos explodir o mundo de tanta alegria.

Boriska: Explodir?

Teodoro: (sorri) Só o modo de falar.

Ambos sorriem e continuam a conversar.


CENA 09/ EXT/ DIA/ CEMITÉRIOOlegário, Ana Flor, Anisia e as irmãs estão envoltas do caixão. Deolinda será enterrada. Teodoro chega. Olegário o vê e vai falar com ele.




Teodoro: Me desculpe doutor, cheguei agora porque acabei perdendo a hora...

Olegário: Não se preocupe. O importante é que chegou à tempo de assistir o sepultamento.

Ana Flor vê os dois conversando e vai até lá.

Ana Flor: (para Teodoro) Você aqui? (para Olegário) Vocês se conhecem?

Um clima tenso surge no ar. Música de suspense instrumental começa. Teodoro e Olegário se olham na medida que Ana Flor deseja uma explicação. A câmera percorre o rosto dos três e congela em Teodoro. A tela escurece.

Voz narrada: Agora o bicho vai pegar. Será que Teodoro contará a verdade para Ana Flor? E se tratando de verdade, será que Olegário finalmente vai acabar com todo esse mistério? Boriska vai se adaptar na Terra? Não perca essas e muitas emoções que ainda estão por vir em “Barraco, Glamour e Et's”

CREIA... ACREDITE... MUDE!!!

2 comentários:

  1. Lurdinha???? Adoooooooooooooorooooo! Acho que toda garota quer ter seu dia de Ludinha... Beijo gato.

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  2. Tô bege com esseJhuan, coitada da Julieta. Mas te conhecendo tenho até pena do que vai acontecer com ele... Coitadoooooooooooooo....

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